Do encontro com o vice-presidente Hamilton Mourão no Planalto aos auditórios do programa do Caldeirão do Huck, passando pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, João Riél Manuel Hubner Nunes Vieira Telles de Oliveira Brito deixa lembranças talvez maiores que o seu nome. Só na delegacia de Arroio do Tigre (RS), ele coleciona mais de 10 inquéritos e é investigado desde 2018 por fraude em registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e exercício ilegal da advocacia, além de plágio.
O homem de 31 anos ganhou o apelido de “filho do Gugu” pela semelhança com o falecido apresentador durante sua participação no Caldeirão do Huck em outubro de 2019. Ao longo do quadro, ele confirmou ao apresentador que seria advogado e trabalharia como juiz leigo em Porto Alegre - um tipo de juiz voluntário que propõe soluções alternativas para pequenas causas.
João Riél também foi recebido no Palácio do Planalto pelo vice-presidente general Hamilton Mourão um mês antes, anunciado como um desembargador do Tribunal de Justiça do RS. Ele estaria acompanhado do futuro ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Kássio Nunes Marques. João Riél coleciona fotos com políticos bolsonaristas, inclusive com o próprio presidente Jair Bolsonaro (PL) conforme divulgado no seu site.
Indagado pelo G1 sobre esse encontro, Mourão afirmou que houve um erro de cadastramento por parte de sua equipe naquele dia, o que teria ocasionado a apresentação irregular do visitante.
João Riél nunca foi advogado ou desembargador. Teve por algum tempo uma credencial da OAB válida para estagiários mas que acabou cancelada. De qualquer maneira, o homem acabou utilizando o registro de uma advogada que, ao tornar-se juíza, teria deixado seu registro parado. Com ele movimentou uma série de processos na comarca de Arroio do Tigre, uma pequena cidade de cerca de 13 mil habitantes a 250km de Porto Alegre. O homem é investigado desde 2018 por essa conduta na delegacia da cidade.
Mas não foi só de encontros com Bolsonaro, Mourão, Luciano Huck, reitores de universidade e ministros do STF que viveu João Riél no últimos anos. Em seu site pessoal ele afirma ser autor de mais de 30 livros, entre poesia, história de Tunas – a cidade onde nasceu – e Direito. Ele também é investigado por plágio em pelo menos uma das obras de Direito, sendo que o suposto plágio teria sido usado como trabalho de conclusão de curso em um também suposto pós-doutorado que alega ter feito na Itália.
À imprensa, João Riél negou as acusações de plágio e afirmou que as investigações sobre fraude no registro da OAB estão arquivadas. Já a delegada responsável pelas investigações diz que o inquérito foi concluído e pedido o indiciamento junto ao Judiciário. Mas o processo acabou travado na Justiça durante a pandemia. Ela lamentou a prescrição.