SÃO PAULO

Operação Escudo: Mais dois PMs são réus por homicídio qualificado e simulação de socorro

Os agentes eram do 4º Batalhão de Ações Especiais (Baep); Ao todo, 8 policiais respondem a Justiça sobre atuação na Baixada Santista

Operação Escudo, na Baixada Santista.Créditos: Secretaria da Segurança Pública de São Paulo
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A Justiça de São Paulo aceitou no começo de agosto as denúncias contra o primeiro-tenente Júlio Cezar dos Santos (38) e o cabo Maykon Wilian da Silva (42), ambos da Polícia Militar, por homicídio qualificado e simulação de socorro. Lotados à época no 4º Batalhão de Ações Especiais (Baep), eles participaram da Operação Escudo em 2023.

A vítima, Wellington Gomes da Silva (32), é um dos 28 mortos ao longo da operação. Segundo o Ministério Público, os PMs cometeram homicídio qualificado contra o homem em uma favela do Guarujá e, depois, simularam socorro, dificultando o trabalho da perícia, que teve de analisar a cena do crime sem o corpo presente.

De acordo com o boletim de ocorrência, os policiais faziam uma incursão na favela do Sítio Cachoeira quando teriam flagrado Wellington armado. Houve troca de tiros e o homem fugiu para um barraco de madeira após perseguição. O primeiro-tenente disparou seu fuzil duas vezes antes que o cabo entrasse no barraco e disparasse mais três vezes com uma pistola. Eles demoraram 23 minutos para chamar o resgate.

“Mesmo com a vítima morta há mais de meia hora, ela foi retirada do local dos fatos e levada ao hospital, onde chegou às 16h32, óbito constatado logo na entrada”, diz a promotoria.

Os promotores do Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp), do MP-SP, apresentaram a denúncia em 15 de julho. Edmilson Rosa dos Santos, juiz da 3ª Vara Criminal do Guarujá, na Baixada Santista, recebeu a denúncia no começo do mês. Os PMs estão afastados de suas funções.

“As ocorrências de morte durante a Operação Escudo são rigorosamente investigadas, em segredo de Justiça, pelo Deic de Santos e pela Polícia Militar, com acompanhamento das respectivas corregedorias, do Ministério Público e do Judiciário”, disse a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo em nota divulgada para a imprensa. Ao todo, 8 policiais respondem à Justiça sobre sua atuação na Baixada Santista.

O que dizem os PMs

Júlio Santos disse em depoimento que, naquele momento, viu a movimentação de traficantes que correram quando iam ser abordados. Após perseguição, encontrou Wellington armado e deu ordem para largar a arma, mas não foi atendido. Ele afirmou não ter visto o homem atirar contra os policiais, mas alegou que a equipe foi alvo de tiros. Também relatou que essa foi sua primeira ocorrência com morte em 17 anos de polícia.

Maykon Silva, por sua vez, conta uma história parecida. Ele narra que, após os tiros do primeiro-tenente, viu Wellington ainda armado tentando refúgio no barraco. Diz que disparou três vezes e saiu da linha de tiro antes de entrar no local e desarmar o suspeito. Os promotores, no entanto, apontam que um dos tiros foi disparado a curta distância, no queixo da vítima, que já estaria morta.

O que disse a vítima antes de morrer

Cerca de um dia antes de morrer, um colega de trabalho gravou Wellington Silva pendurado numa corda de um edifício da cidade, reporta o portal Uol. Ele trabalhava com obras e restauração predial.

“É isso aí, rapaziada. O negócio é trabalhar. Até na chuva”, diz o homem, que estava há cerca de um ano com a carteira assinada.

Segundo relato de familiares, ele teria saído mais cedo do trabalho no dia em que foi morto e foi abordado pela PM no caminho para casa. “Ele foi para a casa dele para tomar banho e ir buscar o filho. Aí os policiais bateram no barraco dele. E ele falou: ‘senhor, não me mata, porque eu tô trabalhando agora e tenho um filho para criar’”, disse um parente ao site supracitado.