Apóstolo Rina, fundador da Igreja Evangélica Bola de Neve, morreu neste domingo (17) em um acidente de moto em São Paulo. O religioso, considerado figura central no movimento evangélico, não resistiu aos ferimentos. O acidente ocorreu às 16h04 no km 131 da Rodovia Dom Pedro I (SP-095), em Campinas (SP). De acordo com a concessionária Rota das Bandeiras, a pista precisou ser interditada por 40 minutos.
Rina retornava de um culto realizado em São João da Boa Vista acompanhado do motoclube da Igreja Bola de Neve, quando perdeu o controle da motocicleta e sofreu a queda. A assessoria de comunicação da igreja confirmou o falecimento e divulgou uma nota nas redes sociais.
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Rinaldo, pastor e surfista, criou a Bola de Neve, que possui 560 unidades em 34 países, como parte da onda de expansão do movimento evangélico no Brasil na virada do século 20. A igreja tinha uma proposta esportiva, simbolizada por uma prancha de surfe que servia de suporte para a Bíblia.
Antes de fundar a própria denominação, Rinaldo integrou a Igreja Renascer, onde liderou o Ministério de Evangelismo. Com o aval do apóstolo Estevam Hernandes, decidiu deixar a Renascer para criar o grupo religioso que mais tarde se tornaria a Bola de Neve.
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Violência doméstica
Desde junho deste ano, o fundador da Igreja Bola de Neve estava afastado de suas funções de liderança após ser acusado de violência doméstica pela esposa, Denise Seixas, que também é pastora e cantora gospel. As denúncias incluíam violência psicológica, injúria e difamação. Denise Seixas obteve na Justiça uma medida protetiva que determinava que o marido mantivesse uma distância mínima de 300 metros dela, de seus familiares e das testemunhas do caso.
A medida protetiva é um instrumento que impõe o afastamento do agressor do lar ou local de convivência com a vítima. Um limite de distância é estabelecido e não pode ser ultrapassado. Também suspende ou restringe a posse de armas. Rina negava as acusações e afirmava confiar na investigação "técnica e imparcial" dos fatos.
A igreja anunciou, por meio de uma publicação no Instagram, o afastamento do líder religioso e a implementação de um canal de ouvidoria para investigar "eventuais falhas e condutas inadequadas".
"O Conselho Deliberativo, junto ao Apóstolo Rina [como Rinaldo é conhecido], decidiu pelo afastamento do seu fundador para que se dedique integralmente a esclarecer os apontamentos apresentados e restabelecer sua saúde e a de sua família", disse o comunicado, que também informou que a igreja ficaria sob a liderança do Conselho Deliberativo. "É com muito pesar e tristeza que nos dirigimos a vocês para tratar dos fatos que se desdobram nas últimas semanas envolvendo o Ministério Bola de Neve."
Outras denúncias
Rina foi denunciado por uma ex-funcionária da igreja por abuso sexual contínuo e repetido por anos, ocorridos dentro da residência do líder espiritual. Ao site Fuxico Gospel, especializado em notícias do segmento evangélico, a mulher afirmou que era tocada pelo pastor antes das tentativas propriamente ditas de abuso mais íntimo.
Ela relata que as conversas começavam com pedidos de massagem e evoluíam para convites privados e que até o casamento do pastor acabou por conta de tal atitude. A Bola de Neve informou publicamente que afastou seu fundador do comando do ministério enquanto o caso é apurado. Em nota, informou que seu objetivo é salvar almas, não destruí-las, e que, por isso, promete ações transparentes na apuração e resposta ao caso.
Ex-Raimundos citaram 'experiências abusivas' na Bola de Neve
Após 13 anos, o músico Rodolfo Abrantes e sua esposa, Alexandra Abrantes, relataram experiências abusivas que sofreram enquanto membros da Igreja Bola de Neve em Balneário Camboriú, Santa Catarina. As denúncias foram feitas nas redes sociais em maio. Abrantes, que liderou a banda Raimundos até 2001, relatou ter sido "cancelado" pela congregação, com suas músicas banidas dos cultos.
Ele e Alexandra também foram acusados de dívidas inexistentes e sofreram ataques psicológicos. A polêmica surgiu após denúncias de ex-fiéis sobre desvio de recursos pela Igreja Bola de Neve, nas redes sociais. As acusações dos internautas apontam para o desvio de dízimos e outras doações para o benefício pessoal dos pastores.
A esposa de Rodolfo fez o relato nos comentários de um dos acusadores: "Que vergonha dessa Bola de Neve. Queria poder mencionar o ‘@’, mas estou bloqueada. Talvez esteja bloqueada para não expôr (mais ainda) os abusos e manipulações que sofri quando era ‘membra’". Ela continua: "Se tem UMA COISA QUE EU ME ARREPENDO nessa vida, foi ter sido 'parte' da Bola de neve Balneário Camboriú".
Ela afirma que a pastora local teria deixado "feridas na alma" que carrega até hoje: "Pastora só por título, pois nunca cuidou de ninguém a não ser de si mesma. As feridas não foram só em mim. E há 13 anos me desvinculei desse sistema podre de manipulação e controle de pessoas. Que nada tem a ver com o reino de Deus. Vergonha! É o que eu sinto, além de muito arrependimento. Gostaria de pedir perdão, pra todas as pessoas, que diretamente ou indiretamente eu influenciei a frequentar essa suposta igreja, que nada tem de Cristo", disse.
Após o depoimento da esposa, Rodolfo também apresentou sua versão dos fatos e declarou: "em razão de não ter anunciado à época a nossa saída, muitas pessoas, principalmente na nossa cidade, ainda acham que estamos lá. Eu e minha esposa não temos conhecimento, nem compactuamos de absolutamente nada que tenha sido feito por meio da liderança desde 2011, quando saímos".
Segundo ele, após a esposa ter feito as denúncias de abuso, ele e sua família foram vítimas de cancelamento dentro da comunidade. "Fomos cancelados por pastores que tínhamos como amigos", relata Rodolfo. "Minha esposa foi chamada de Jezabel pra baixo, fui acusado de uma dívida com o selo musical da igreja (o que através de uma prestação de contas foi comprovado que eu não devia nada),"
Ele acredita que essas ações visavam silenciá-lo. "Tudo isso , talvez com o intuito de se preservar e manter esse sistema funcionando. Fico muito triste com tudo que está acontecendo pois, mais uma vez, homens em nome de Jesus, O representam mal. Oro pelas pessoas que de alguma forma foram feridas", declarou.
RELEMBRE O CASO: Ex-vocalista do Raimundos e esposa denunciam abuso de pastores de igreja após relato de ex-fiéis
Bola de Neve surfou no bolsonarismo
Durante as eleições de 2022, Fabiano Campos Zettel, empresário, investidor do setor imobiliário e pastor da Igreja Bola de Neve em Belo Horizonte, foi o maior doador das campanhas de Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas. Zettel contribuiu com R$ 3 milhões para a candidatura de Bolsonaro à reeleição e R$ 2 milhões para a de Tarcísio, que concorria ao governo de São Paulo. Todas as doações foram registradas e declaradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
É um direito de qualquer pessoa destinar recursos a campanhas. No entanto, ao falar sobre doações, surge sempre a dúvida sobre as motivações por trás delas. Questionado sobre sua generosidade, Zettel disse à época ter sido por "convicções pessoais e valores cristãos de família conservadora."
O grupo, que inicialmente tinha o objetivo de apresentar um discurso evangélico de vanguarda, acabou se transformando em uma versão do "terrivelmente evangélico" alinhada ao bolsonarismo. Em 2018, um áudio em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, circulou nas redes sociais em forma de fake news, gerando confusão ao ser atribuído ao padre Fábio de Melo. Investigações confirmaram que a gravação, na qual se ouve um discurso pró-Bolsonaro, foi, na verdade, feita pelo apóstolo da Igreja Bola de Neve, Rina, e não pelo sacerdote.
No trecho do áudio que circulava no WhatsApp e em canais do YouTube naquele ano, sem identificação da voz, Rina dizia que Bolsonaro é "pró-família, pró-Deus e pró-valores". E completava ao final: "E quando vejo quem são os inimigos do Bolsonaro, eu falo 'estou escolhendo o cara certo para votar'".
O pastor Silas Malafaia era um dos grandes amigos de Rina, e o defendeu das acusações, dizendo que elas eram "calúnias sérias e difamações vergonhosas". Em 2021, Rina concedeu uma entrevista à Folha de S.Paulo, na qual defendeu a permanência dos templos religiosos abertos durante a pandemia da Covid-19, desafiando as medidas de isolamento adotadas para conter o vírus. Ele se referiu à "saúde espiritual em tempos de desesperança". Em 2022, Rina fez campanha para a reeleição de Jair Bolsonaro (PL) e afirmou que o apoio dos líderes cristãos foi "espontâneo e natural", além de considerar positivo ter um "candidato de direita" na eleição, que, no entanto, foi vencida por Lula (PT).