SUCATEAMENTO

Curso da USP tem um terço de suas matérias canceladas por falta de professores

11 disciplinas deixaram de ser ofertadas no curso de Artes Visuais da USP; alunos e professores cobram medidas da reitoria

Manifestação realizada pelos alunos da USP contra a falta de professores.Créditos: Reprodução/Instagram/@calcotrim
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Onze disciplinas previstas na grade do curso de Artes Visuais da Universidade de São Paulo (USP) foram canceladas no segundo semestre do ano letivo de 2023, iniciado neste mês de agosto, por falta de professores no Departamento de Artes Plásticas (CAP) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

Já estava previsto que cinco disciplinas não seriam ofertadas por falta de docentes. No entanto, o cancelamento das outras seis aconteceu somente uma semana antes do início das aulas do semestre, obrigando os alunos a refazerem suas grades curriculares às pressas. Segundo a Associação de Docentes da USP (Adusp), há casos de alunos que terão que adiar a formatura por falta da oferta de disciplinas.

Falta professores na USP

O cancelamento em massa ocorreu pela não renovação do contrato de três docentes temporários do CAP. Pela regra, os professores provisórios só podem permanecer durante dois anos e, para serem contratados, têm de esperar por um novo concurso. No entanto, mesmo com as ausências anunciadas, não havia ninguém para substituí-los.

Esse foi apenas o estopim de um problema que se agravou ao longo dos anos. De acordo com levantamento feito pela Adusp, a maior universidade da América Latina está com um déficit de mil docentes em relação a 2014, início da gestão do reitor Vahan Agopyan. A atual reitoria, gerida por Carlos Gilberto Carlotti Júnior, com a vice-reitora Maria Arminda do Nascimento Arruda, fala de 'apenas' 876 docentes faltantes, que seriam repostos até o fim da gestão, em 2025.

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No CAP, o número necessário de professores, segundo a coordenação do curso, é 20. Atualmente, o departamento conta, na teoria, com 15, mas três estão em situação de modalidade especial, como licença médica. Portanto, o departamento conta com apenas 12 professores, um déficit de oito docentes. A situação ainda pode piorar, já que há previsão de cinco aposentadorias no CAP até 2026.

A situação vivida no Departamento de Artes Plásticas se estende para outros institutos da USP. Entre os casos mais graves está o do curso de Letras, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).

Estudantes se manifestam

Para combater a falta de professores, os alunos de artes visuais realizaram uma manifestação no dia 9 de agosto, com a presença de discentes de outros cursos da ECA e da USP. Numa reunião do Conselho Técnico-Administrativo (CTA), com a presença da atual diretora da ECA, Brasilina Passarelli, alunas do curso de artes visuais leram uma carta feita pelos próprios discentes para cobrar medidas da reitoria contra o sucateamento.

“A falta de contratação de professores num curso como o de Artes Visuais da USP limita as oportunidades de desenvolvimento de novos talentos, como ainda compromete o prestígio da instituição e sua capacidade de atrair estudantes, parcerias e projetos relevantes, comprometendo a manutenção de um corpo docente qualificado e estável, vital para a qualidade do ensino na Universidade e desde seu início conectado à comunidade cultural e artística, desempenhando papel fundamental na formação de profissionais ligados à área”, dizia um trecho do documento.

O perfil @cap_semdesmonte no Instagram, criado durante a pandemia já para a reivindicação de novos docentes, foi retomado para divulgar as manifestações e demandas dos estudantes. Na última quinta-feira (17), uma assembleia foi realizada entre os estudantes para discutir novas mobilizações.