SÃO PAULO

Mortes na Chacina do Guarujá podem chegar a 19, diz Ouvidoria das Polícias

Ministro da Justiça critica ação da PM de Tarcísio: “Desproporcional em relação ao crime”

Policiais da Rota revistam homens.Créditos: Reprodução/Alma Preta
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A operação da Polícia Militar de São Paulo que ocorre no Guarujá desde a última sexta-feira (28) já deixou 10 mortos confirmados pelas autoridades, e agora a Ouvidoria das Polícias apura mais 9 denúncias que podem elevar a cifra da chacina a 19 vítimas. Essas novas denúncias são referentes a crimes que teriam ocorrido entre a noite do último domingo (30) e essa segunda (31).

As dez mortes já confirmadas ocorreram entre sexta-feira (28) e a tarde de domingo. Em pronunciamento nessa manhã, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse que está “extremamente satisfeito com a ação”.

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"A gente não quer o confronto de jeito nenhum, tanto é que nós tivemos 10 prisões. Aqueles que resolveram se entregar à polícia, foram presos. Foram apresentados à Justiça. O autor do disparo foi preso e foi entregue à Justiça, como deve ser. A gente não quer de maneira nenhuma o confronto, mas também não vamos tolerar a agressão", disse o governador.

Na coletiva, o governador bolsonarista confirmou 8 mortes durante a operação. Mais tarde, no início da noite desta segunda-feira (31), outras duas mortes foram confirmadas pela delegacia do Guarujá.

De acordo com os boletins de ocorrência de 7 das 10 mortes confirmadas, a PM disparou pelo menos 30 vezes em 42 horas para produzir essas vítimas. Segundo os depoimentos dos próprios agentes, foram 34 disparos: 17 de fuzil e 17 de pistolas. Em apenas 3 casos os PMs alegaram ter sido alvejados pelas vítimas antes do desfecho.

Governo Federal não vai intervir

O ministro Flávio Dino, da Justiça e Segurança Pública, falou sobre o episódio com a imprensa na noite desta segunda e fez duras críticas a ação da PM de Tarcísio.

“Chama atenção o fato de você ter um terrível crime contra um policial, um crime que realmente merece repulsa, sendo usado inclusive uma pistola de 9 milímetros, e houve uma reação imediata que não me parece nesse momento ter sido proporcional em relação ao crime cometido”, disse o ministro.

Ministro Flávio Dino fala com a imprensa. Reprodução/Agência Brasil

Dino também afirmou que as investigações a respeito da matança devem ser levadas à cabo pelas autoridades estaduais de São Paulo e garantiu que o Governo Federal acompanha os desdobramentos mas não pretende intervir.

“Nesse momento é fundamental que haja essa investigação independente no estado. As imagens das câmeras de segurança são fundamentais para o esclarecimento do fato. Essa providência será tomada pelas autoridades de São Paulo e nós, do governo federal, estamos acompanhando. Não podemos intervir ou fazer qualquer tipo de presunção. Vamos esperar a apuração das autoridades paulistas, do Judiciário e do Ministério Público para, aí sim, tomar uma posição oficial”, concluiu.

Já o ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, declarou mais cedo à imprensa que acionou a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos para acompanhar o caso. “Foi cometido um crime bárbaro contra um trabalhador que precisa ser apurado, mas nós não podemos usar isso como forma para agredir e violar direitos humanos”, declarou.

Ministro Silvio Almeida. Valter Campanato/Agência Brasil

"Operação Escudo"

  • A "Operação Escudo" iniciou após o agente da Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota) Patrick Reis ser morto enquanto fazia ronda junto com outro colega na Vila Zilda na noite da última quinta-feira (27).
  • Patrick Bastos Reis foi baleado durante patrulhamento nas comunidades. Segundo informações da SSP, ele foi atingido no tórax por um projétil calibre 9 milímetros, disparado a uma distância entre 50 e 70 metros.
Patrick Reis. Reprodução/Redes Sociais
  • O secretário de segurança pública, Guilherme Derrite, confirmou, através de suas redes sociais, a morte de Reis e anunciou a "Operação Escudo".
  • A Operação Escudo foi deflagrada na última sexta-feira (28) e contou com 3 mil policiais de 15 batalhões diferentes;
  • Mesmo com a prisão de Erickson David da Silva, o Deivinho, apontado como o assassino de Reis, a previsão é de que a operação dure mais 1 mês;
Erickson David da Silva, o Deivinho, suspeito de ter matado Patrick Reis. Reprodução/Redes Sociais
  • De acordo com relatos de moradores divulgados pela imprensa, policiais ameaçaram matar mais de 60 pessoas para vingar o colega. Além disso, pelo menos uma das vítimas chegou a ser torturada antes de vir a óbito.

Moradores denunciam terror espalhado PMs

  • Moradores das duas comunidades onde ocorre a Operação Escudo afirmam que estão sitiados e que PMs estão espalhando terror;
  • Ao Brasil de Fato, um morador de uma das comunidades do Guarujá onde ocorreu a Operação Escudo, relata que um garoto foi torturado e morto;

"Eles [policiais da Rota] andam de capuz pelas vielas, estão matando primeiro para perguntar depois. Igual fizeram com um moleque que estava indo no mercado. O moleque gritava 'pelo amor de Deus', e bateram no menino, todo mundo ouviu aqui. Mataram o menino e levaram o celular dele. Menino inocente, isso não pode", revelou o morador.

  • Oficialmente, o número de mortes até este momento é de dez pessoas;
  • O ouvidor Claudio Aparecido da Silva, em entrevista ao G1, diz que o número pode aumentar e que, segundo relatos colhidos com os moradores das duas comunidades, PMs teriam ameaçado matar, pelo menos, 60 pessoas;
  • A reação desproporcional por parte da PM de São Paulo segue os mesmos moldes de operações realizadas no Rio de Janeiro que, de acordo com levantamento do Instituto Fogo Cruzado e o Grupo de Estudo dos Novos Legalismos (Geni), acumula até maio de 2022, 178 mortes e 39 chacinas.