VIOLÊNCIA POLICIAL

“Cadê o Amarildo?”: dez anos da morte do pedreiro

Família da vítima ainda não foi indenizada e vê impunidade policial

Pedreiro foi retirado de bar por PMs e nunca mais foi visto.Créditos: Reprodução
Escrito en BRASIL el

Às 19 horas, do dia 14 de julho de 2013,  Amarildo Dias de Souza, com 43 anos na época, foi abordado por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Rocinha, no Rio de Janeiro. Ele foi retirado do Bar do Júlio, estabelecimento comercial da comunidade, e foi colocado na viatura. O pedreiro Amarildo nunca mais foi visto. 

Oito policiais foram condenados, sendo seis expulsos da corporação. As penas chegaram a até 13 anos, mas todos já estão em liberdade. O major Edson Raimundo e o tenente Luiz Felipe de Medeiros continuam na Polícia Militar do Rio de Janeiro. A soma dos salários pagos a eles desde que o crime aconteceu já chega a um total de R$ 2,5 milhões.

Ajude a financiar o documentário da Fórum Filmes sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. Clique em https://benfeitoria.com/ato18 e escolha o valor que puder ou faça uma doação pela nossa chave: pix@revistaforum.com.br.

Este ano, com os dez anos completos do desaparecimento, um protesto foi organizado na orla da Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. A data também serviu para a família externar o sentimento de impunidade com qual vive. Até hoje, eles não receberam a indenização determinada pela Justiça. 

Uma década de impunidade

"Eu não tive a chance de enterrar meu pai. Nunca pude me despedir e nunca consegui explicar para minha filha, de 3 anos, o que houve com o avô dela. Só vou acreditar na Justiça quando a gente encontrar os restos mortais", diz Anderson Gomes Dias de Souza, filho de Amarildo. 

Até hoje, a família da vítima não recebeu os R$ 3,5 milhões que o Estado do Rio foi condenado a pagar como indenização pelo crime. Segundo João Tancredo, advogado da família, a previsão é que os primeiros precatórios comecem a ser pagos somente em 2026, com o trânsito em julgado dos processos.

Além disso, há uma demora muito grande no julgamento que pode expulsar o major Edson e o tenente Medeiros. Os seis PMs envolvidos foram exonerados com mais rapidez, pois eram oficiais e podem ser expulsos da PM por uma decisão do comandante-geral (o que aconteceu em 2016). 

A exoneração dos outros dois PMs envolvidos depende do prosseguimento do Conselho de Justificação (CJ), processo que avalia a conduta dos policiais nesses casos. A tática utilizada pela defesa dos réus foi o uso de uma grande quantidade de recursos. Atualmente, eles querem que a prescrição seja reconhecida, o que livraria os PMs de sanções dentro da corporação.  

Os crimes aos quais os policiais foram condenados incluem tortura seguida de morte, ocultação de cadáver e corrupção de testemunhas do caso. Mesmo após cumprimento das penas, eles negam terem torturado Amarildo. 

Protesto em Copacabana

Para marcar os 10 anos do crime, a ONG Rio de Paz organizou uma manifestação na orla da Praia de Copacabana. Parentes e voluntários participaram do protesto, que também quer chamar a atenção para outros casos de desaparecimento no Brasil. 

Segundo a Organização, o Rio de Janeiro registra 5 mil desaparecimentos, em média, por ano. 10% são assassinatos cujos corpos jamais são encontrados.

*Com informações do Globo