INJUSTIÇA

Fotógrafo que perdeu olho nas Jornadas de Junho tem indenização negada pela Justiça de SP

No próximo dia 13 de junho, Sérgio Silva completa uma década sem parte do corpo que lhe é essencial para trabalhar

O fotógrafo Sérgio Silva.Na imagem, o profissional cobria manifestação que marcava, em 2016, o aniversário de 24 anos do Massacre do Carandiru, em São PauloCréditos: Raphael Sanz
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A Justiça de São Paulo negou na manhã desta quarta-feira (26) um recurso do fotógrafo Sérgio Silva, de 42 anos, que pede uma indenização ao Estado após ter perdido não a visão do seu olho esquerdo, mas o próprio olho, enquanto cobria as Jornadas de Junho, no dia 13 daquele mês de 2013.

Sérgio trabalhava naquela noite, sequer estava nas ruas de São Paulo como manifestante, e alega que a bala foi disparada pela Polícia Militar. Mas para o desembargador Rebouças de Carvalho, relator do julgamento, as provas apresentadas pela defesa do profissional não foram suficientes para provar que a lesão tenha sido causada pela PM.

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Na decisão, o desembargador se apoiou nos laudos do Hospital de Olhos e do Hospital 9 de Julho que apontaram a lesão mas não citaram o impacto de uma bala de borracha como sua causa. O relator ainda colocou que a lesão poderia ter sido causado por uma bola de futebol.

Já o desembargador Décio Notarangeli, mesmo citando decisão do Supremo Tribunal Federal de que é responsabilidade do Estado quando profissionais da imprensa são feridos durante coberturas, não viu “provas do nexo de causalidade” entre a lesão ocular de Sérgio e a ação da PM paulista. Além disso, também disse que o caso não requer retratação da decisão inicial, de 2017, que alega que o fotógrafo “assumiu riscos do ofício ao se colocar entre manifestantes e polícia”.

Rebouças de Carvalho e Notarangeli foram acompanhados por Oswaldo Luiz Palu, o terceiro juiz. Esta é a quarta vez que a Justiça de São Paulo nega a Sérgio Silva o direito a indenização.

No próximo dia 13 de julho, o fotógrafo completa uma década sem o órgão do corpo do qual mais necessita para trabalhar: o par de olhos. Ele luta na Justiça por uma indenização de R$ 1,2 milhão e pagamento de pensão mensal de R$ 2,3 mil pelos danos causados pelo Estado.

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“A decisão desta manhã foi mais violenta do que o próprio tiro”, desabafou Sérgio que promete recorrer até a última instância. Ele também aponta que sobram provas sobre a culpabilidade da PM no seu caso.

“Estão fechando os olhos para quaisquer possibilidades de defesa que eu possa ter. Isso é muito violento. Afirmam que qualquer coisa pode ter me atingido e eu não estava em qualquer lugar, tinha uma ação clara do Estado, presente e agindo. Negam a chance de cogitar que a bala possa ter sido disparada pelo Estado. Me dá um sentimento de revolta, mas é uma revolta que precisa ser controlada. Vou até o fim”, declarou para o portal Uol.

Na noite em que Sérgio Silva foi atingido, a Polícia Militar disparou oficialmente 178 tiros de bala de borracha. Aos 31 anos, o fotógrafo foi atingido e teve de andar por 40 minutos em busca de atendimento médico. Ele ficou mais de um ano sem trabalhar e seu processo de readaptação física e psicológica, bem como pormenores da ocorrência e da longa batalha judicial que enfrenta, são contados no livro Memória Ocular, escrito em parceria com Tadeu Breda e lançado pela editora Elefante.