BARBÁRIE

Amazônia em chamas: do "passar a boiada" ao desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips

Sob o governo Bolsonaro, o desmatamento da floresta amazônica bateu todos os recordes e o garimpo ilegal avançou e levou terror aos povos originários

Amazônia em chamas: do "passar a boiada" ao desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips.
Escrito en BRASIL el

Em maio de 2020 foi divulgada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello a íntegra de uma reunião de Bolsonaro (PL) com todos os seus ministros da época. Além do clima de "conversa de boteco" expostos pela gravação, chamou a atenção uma fala do então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. 

Com o advento da pandemia do coronavírus, Salles defendeu que era o momento ideal para aproveitar e "passar a boiada" no que diz respeito a todos os regramentos de preservação da Amazônia. E a boiada passou e continuou a atravessar a porteira.

O ex-ministro do Meio Ambiente quase que sai algemado de seu ministério, mas, mesmo que tenha caído, deixou uma herança maldita que segue perpetrada pelo governo Bolsonaro e que resultou em várias barbáries contra os povos originários e, mais recentemente, no desaparecimento do servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai), Bruno Pereira, e do jornalista inglês, Dom Phillips, correspondente do The Guardian no Brasil. 

O título desta matéria é uma referência direta ao filme dos anos 1990 "Amazônia em Chamas", que narra a história do político e ecologista, Chico Mendes, que foi assassinado por causa do seu trabalho em defesa da floresta. Infelizmente, muitos outros corpos tombaram depois de Mendes e hoje, mais do que nunca, a Amazônia desaparece sob chamas de incêndios, desmatamentos e garimpos ilegais. 


Cronologia da barbárie

Passando a boiada: Salles diz que "tem que privatizar tudo o que pudermos"

"Temos que privatizar tudo o que pudermos", afirmou, justificando que a medida é necessária pois o Ministério do Meio Ambiente é a menor em 21 anos, comprometendo assim ações de fiscalização.

Salles afirmou que "o Brasil está atrasado", e que o país "precisa privatizar", além de afirmar que "o setor privado faz bem e mais barato e por isso que a pauta liberal é necessária no Brasil".

"Não vou usar a palavra privatizar, vou usar melhor eficiência e digo, por exemplo, os parques nacionais. Esses espaços precisam de restaurantes, estacionamentos, trilhas, banheiros, segurança e para isso precisa de alguém que saiba fazer bem e que tenha dinheiro para fazer, aí entra o setor privado", disse o ministro

Estudo liderado pela UFRJ indica que Salles aproveitou a pandemia para “passar a boiada”

Segundo a pesquisa, a partir do mês de março, quando a pandemia se instalou definitivamente no Brasil, o governo de Bolsonaro intensificou sua política de desregulamentação ambiental.

O estudo mostra que das 57 medidas adotadas pelo governo Bolsonaro para enfraquecer a legislação ambiental ou os organismos regulares, ao menos metade delas foram promulgadas entre os meses de março e setembro de 2020, período que os pesquisadores consideram que foi quando “passou a boiada”, usando os termos do ministro Salles.

No mesmo período, também segundo o estudo, houve uma redução de 72% em multas ambientais, apesar de um aumento no desmatamento registrado em regiões como a Amazônia e o Pantanal. Os estudiosos apontam os cortes no financiamento de órgão como Ibama e ICMBio como fatores responsáveis pela diminuição do número de multas.


Na Câmara, Saraiva diz que Ricardo Salles "tornou legitima a ação de criminosos" na Amazônia

O delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva, retirado da PF do Amazonas após apresentar notícia-crime no Supremo Tribunal Federal contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, participou nesta segunda-feira (26) de audiência pública na Comissão de Legislação Participativa (CLP) e Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDH) da Câmara dos Deputados.

Durante a sessão, Saraiva afirmou que "o ministro tornou legitima a ação de criminosos" na Amazônia ao comentar sobre a denúncia apresentada contra Salles. O delegado afirmou que houve um aumento da grilagem no último período.

 

Servidor do Ibama é intimidado após denunciar ineficácia do modelo de multas criado por Ricardo Salles

Hugo Leonardo Mota Ferreira, analista ambiental do Ibama, foi retirado de sua sala e teve seu computador confiscado. O servidor divulgou um documento, no qual denuncia que o modelo de conciliação de multas, criado há dois anos pelo ministro Ricardo Salles, é um fracasso, pois aplicou menos de 2% das autuações ambientais no período.

 

Licenciamento ambiental: a pior de todas as boiadas passou e o Brasil é cada vez mais pária


A Câmara dos Deputados aprovou na madrugada desta quinta-feira (13) o substitutivo do Projeto de Lei 3729/2004 do deputado Neri Geller (PP-MT), por 300 votos a 122, com apoio do Centrão e de bolsonaristas. Na prática, o PL restringe, enfraquece ou, em alguns casos, até extingue a necessidade de licenciamento ambiental no país.

 

Ricardo Salles é alvo de operação da PF sobre corrupção e facilitação de contrabando


O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal (PF). Entre os crimes supostamente praticados há a prática de corrupção, advocacia administrativa, prevaricação e, especialmente, facilitação de contrabando.

Sob o nome de Operação Akuanduba, cerca de 160 policiais federais cumprem 35 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e nos estados de São Paulo e Pará. As medidas foram determinadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em despacho, Moraes aponta relação de Salles com “grave esquema de facilitação e contrabando de produtos florestais”

 

Amazônia em chamas 

 

Em 3 anos, governo Bolsonaro promoveu retrocesso ambiental de 30, diz dossiê


Em três anos de governo Bolsonaro, o Brasil sofreu um retrocesso de 30 anos na área socioambiental. É o que mostra dossiê lançado pelo Sinal de Fumaça, plataforma que sistematiza semanalmente dados e fatos sobre a crise socioambiental brasileira.

 

No Brasil de Bolsonaro, desmatamento em 2021 é o maior registrado em uma década


De acordo com dados colhidos pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o desmatamento registrado na Amazônia, em 2021, foi o pior em uma década. O resultado mostra o total descaso com o meio ambiente do governo de Jair Bolsonaro (PL).

 

Planalto escondeu dados do desmatamento para divulgar após a COP-26


A informação divulgada de que o desmatamento na Amazônia nos últimos 12 meses foi o maior desde 2006 foi mais uma estocada na reputação do cambaleante governo de Jair Bolsonaro, visto mundo afora como uma ameaça ao meio ambiente. No entanto, um dado discreto que consta nos relatórios do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite-Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), revelou que o material já estava pronto desde 27 de outubro, quatro dias antes do início da COP-26, a cúpula do clima das Nações Unidas, realiza em Glasgow, na Escócia.

 

Amazônia: garimpo ilegal de ouro avança e contamina água e solo

Dando prosseguimento a política do governo Bolsonaro de "passar a boiada", o garimpo ilegal de ouro na Terra Indígena Sararé, que fica entre Pontes e Lacerda (MT), avançou nos últimos anos e isso pode alterar o ecossistema local.

Atualmente existem três garimpos ilegais na região e que tem trazido danos ao meio ambiente. Além de produzir desmatamento, a ação polui o solo e a água. 


Cadê os Yanomami? Mais de 20 indígenas de comunidade queimada após estupro estão desaparecidos


Mais de 20 moradores da comunidade onde a menina indígena de 12 anos foi estuprada e morta por garimpeiros permanecem desaparecidos. Nas redes sociais, ativistas, artistas e sociedade civil cobram por respostas "Cadê os Yanomamis"?



Amazônia: desmatamento cresce 56,6% no governo Bolsonaro, diz Ipam


Segundo levantamento realizado pelo Instituto Ambiental da Amazônia (Ipam), entre agosto de 2018 e julho de 2021, o desmatamento da Amazônia aumentou 56,6% em relação ao mesmo período em anos anteriores.

O estado do Pará segue como aquele que possui as áreas mais críticas de desmatamento desde 2017.
 

Após ameaças, liderança indigenista e jornalista do Guardian estão desaparecidos

O indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Philips, correspondente do The Guardian no Brasil, estão desaparecidos após saírem para uma missão de visitas a comunidades e trabalho de campo. Pereira era alvo de ameaças.