TECNOLOGIA

As três cidades brasileiras que podem mudar de patamar por causa de suas terras raras

Uma cratera aberta por um vulcão extinto concentra o que poderia ser um tesouro econômico: um depósito de terras raras; entenda

Poços de Caldas (MG).Créditos: Wikimedia commons
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No sul do estado de Minas Gerais, uma cratera aberta por um vulcão extinto concentra o que poderia ser um tesouro econômico: um depósito de terras raras, conjunto de 17 elementos químicos naturais cuja composição acumula minerais essenciais para a produção de tecnologias.

As terras raras abrangem os municípios mineiros de Poços de Caldas (originalmente habitado pelos indígenas cataguases, e situado em uma região vulcânica já amortecida no sopé da Serra de São Domingos), Caldas e Andradas, além de um município localizado no estado de São Paulo, na divisa com Minas Gerais: Águas da Prata. Elas costumam ocorrer no local de antigas formações vulcânicas, que deixaram rochas alcalinas, suscetíveis às erosões e transformações biogeoquímicas capazes de ionizá-las.

A cidade de Poços de Caldas tem a segunda maior ocorrência mundial dessa espécie de rochas, atrás apenas da Sibéria.

Os minerais das terras raras são componentes de eletroeletrônicos como televisores de tela plana e smartphones; estão nas lâmpadas LED e em equipamentos avançados de uso médico, como máquinas de raio-X; ou em armamentos estratégicos, como mísseis teleguiados. Também compõem instrumentos de captação energética, como as turbinas eólicas.

Têm como propriedade, especialmente, uma alta resistência a temperaturas elevadas; a capacidade de absorver e emitir altas frequências de luz; e um magnetismo intenso.

Os elementos que compõem as terras raras, nome dado aos óxidos de elementos metálicos (compostos químicos formados por átomos de oxigênio e um outro elemento em que o oxigênio atua como polo mais negativo), são minérios difíceis de serem separados de sua composição unida.

Eles não são exatamente raros na natureza, mas recebem essa designação por serem encontrados, em geral, com traços de impurezas, o que torna difícil utilizá-los para propósitos industriais e tecnológicos. Além disso, costumam estar muito dispersos, não concentrados nos "minerais de terras raras" (como aqueles encontrados nos municípios mineiros).

Elementos que compõem as terras raras separados de sua formação original.
Créditos: Wikimedia commons

Alguns de seus elementos, entre os 17 metais pesados, macios e brilhantes que compõem a formação, são o escândio e o ítrio, que se destacam por suas propriedades elétricas e magnéticas: eles são capazes de formar hidróxidos em contato com a água fria, liberando hidrogênio; são, portanto, supercondutores de temperatura.

O escândio costuma ser aplicado como componente de tecnologias aeroespaciais, aditivo para lâmpadas de vapor de mercúrio ou em refinarias de petróleo, como rastreador radioativo.

Já o ítrio é um supercondutor usado como material de refração em ligas metálicas empregadas, por exemplo, em motores a jato; ou como célula de combustível, cerâmica e cimentos; lâmpadas eficientes e fluorescentes; e em tratamentos de câncer.

A jazida encontrada nos municípios de Minas Gerais e São Paulo está localizada a cerca de 30 metros de profundidade, uma distância atingível com instrumentos simples de escavação, e sem a necessidade de empregar explosivos. Sua exploração pode alterar a economia das cidades em que foi encontrada.

A área total correspondente aos achados pode se estender por cerca de 750 km², e 15% da região já estudada contém aproximadamente dois bilhões de toneladas de argila "recheada" com íons desses elementos. A quantidade total, dizem os especialistas, pode chegar a 10 bilhões de toneladas.

No começo de 2024, o governador do estado de Minas Gerais, Romeu Zema, protocolou um acordo de investimentos entre o governo estadual e uma empresa australiana de exploração mineral, a Viridis Mineração. O valor do investimento foi de R$ 1,35 bilhão.

Nos últimos cinco anos, o total de investimentos privados para a exploração das terras raras foi de R$$ 390 bilhões, disse Zema na ocasião da assinatura do contrato.

A intenção, de acordo com o CEO da empresa australiana, que vai construir uma planta de beneficiamento e tratamento de minérios na região, é inserir Poços de Caldas na "nova matriz global de geração de energia verde". A licença da Viridis vai valer sobre uma área de 15 mil hectares, e sua operação está prevista para começar em até 48 meses.

 

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