AUDIÊNCIAS

General Heleno se enrola com o próprio advogado: “virada e soco na mesa é literal ou figurado?”

O general Augusto Heleno respondeu apenas as perguntas feitas pelo seu próprio advogado, Matheus Milanez

Créditos: Ton Molina/STF
Escrito en BRASIL el

Do STF, em BRASÍLIA | O general Augusto Heleno se enrolou diversas vezes durante questionamentos do próprio advogado, Matheus Milanez, durante sua fala à audiência no Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga a tentativa de golpe de Estado nesta terça-feira (10). “Virada de mesa e soco na mesa é sentido literal ou figurado?”, perguntou o advogado. “Figurado”, respondeu Heleno.

Heleno só respondeu a perguntas feitas por seu próprio advogado durante a audiência, de forma que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, teve que listar a sequência de questionamentos que seriam feitos por ele ao réu.

Ainda sim, mesmo com somente uma pessoa lhe fazendo perguntas, o general se enrolou inúmeras vezes, respondendo que era “quase” impossível reverter os resultados das eleições da corrida presidencial entre os candidatos Jair Bolsonaro e Lula, e que “não havia oportunidade” de ser defendida qualquer atitude ilegal.

Veja a íntegra de um dos momentos:

  • “Virada de mesa e soco na mesa é sentido literal ou figurado?”, perguntou o advogado. “Figurado”, respondeu Heleno.
  • “Era possível reverter o resultado das eleições?”, questionou Milanez. “Não, isso aí é quase impossível”, respondeu Heleno.
  • “O senhor defendeu qualquer atitude ilegal?”, perguntou Milanez. “É, realmente não havia oportunidade, o próprio presidente cortou essa oportunidade”, respondeu Heleno.

Veja o vídeo do momento:

Anderson Torres quase chora

Antes de Heleno, p ex-ministro da Justiça Anderson Torres ficou tenso e quase se chorou diversas vezes ao longo de seu depoimento ao ministro Alexandre de Moraes. 

Seu comportamento estava tranquilo até ser questionado por Moraes sobre o fato de ter viajado para os Estados Unidos no dia 6 de janeiro de 2023, ou seja, dois dias antes dos atos golpistas de 8 de janeiro, quando era o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.  “Fui realizar o sonho da minha filha na Disney e vivi um pesadelo”, desabafou Torres sobre o momento.

Moraes havia falado sobre mensagens apagadas no celular de Torres e mencionou o fato de o ex-ministro ter retornado ao Brasil sem o aparelho. 

“Perdi meu telefone, momento mais duro da minha vida, saí daqui como secretário de Segurança e saiu minha prisão no dia 10, isso me deixou completamente transtornado, não tenho vergonha de falar, perdi o equilíbrio completamente…”, desabafou. “A realização do sonho das crianças se tornou um pesadelo para mim”, completou.

Anderson Torres ainda correu atrás do prejuízo e fez um mea culpa sobre as palavras utilizadas durante uma reunião de teor golpista com Jair Bolsonaro e outras autoridades ligadas ao antigo governo, em 5 de julho de 2022. 

“Era uma reunião fechada, o que eu quis dizer com isso é que se nós perdêssemos a eleição, tudo que foi construído no governo Bolsonaro tudo seria perdido. Era minha  visão”, tentou argumentar o ex-ministro. “Talvez eu não tenha usado as melhores palavras”, emendou. 

Ao longo de seu depoimento, Anderson Torres ressaltou diversas vezes sua proximidade com a Polícia Federal (PF) – só para, em seguida, jogar a culpa dos questionamentos das urnas eletrônicas no corpo técnico. “Eu nunca questionei a lisura do processo eleitoral, todas as falhas foram sugestões de melhoria que trouxeram nos documentos, são sugestões técnicas”, afirmou.

Ataque a brigadeiro

Primeiro a depor nesta terça-feira (10), o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, demonstrou alinhamento à trama golpista ao criticar um de seus colegas de farda que rejeitou a ruptura democrática.

Garnier atacou o ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior, por ter rejeitado frontalmente a proposta golpista apresentada em reunião com o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, em 14 de dezembro de 2022.

“Um comandante não diz a ministro da Defesa palavras como essa”, afirmou Garnier, ao criticar a atitude de Baptista Júnior, que se retirou da reunião após constatar que o documento em discussão previa impedir a posse de Lula.

“Acho até que isso não se coaduna com a atitude de comandante de força”, completou o almirante, com desprezo explícito pela resistência do colega à conspiração.

Garnier ainda negou que tenha colocado as tropas à disposição do ex-presidente. 

"Tanto no inquérito policial, quanto em juízo, teria dito que a partir dessas discussões, dessa possibilidade que o ex-presidente colocou de um estado de exceção e com isso a decretação da GLO [Garantia da Lei e da Ordem] para novas eleições e impedir que o presidente pudesse tomar posse, que o senhor teria sido o único que 'colocaria as tropas da Marinha à disposição do presidente'. Você se recorda disso?", indagou Moraes.

"Eu me recordo do que disse o brigadeiro Baptista Júnior", respondeu Garnier. "Isso não ocorreu?", insistiu o ministro. "Não, senhor", respondeu o militar.

"Em primeiro lugar, o brigadeiro Baptista Júnior não estava presente nessa reunião", disse. Moraes, ratificou, dizendo que foi o "general Freire Gomes quem disse isso" e perguntou novamente se "isso ocorreu ou não".

"Não, senhor", reiterou o almirante. "O senhor nem tocou nesse assunto?", perguntou Moraes.

"Senhor ministro, como disse há pouco, não houve deliberações. O presidente não abriu a palavra para nós. Ele fez as considerações dele e expressou o que para mim parecia mais preocupações e análises de possibilidades do que propriamente uma ideia ou intenção de conduzir alguma coisa em uma certa direção. A única que percebi, que para mim era tangível e importante, era a preocupação com a segurança pública para qual a GLO é um instrumento adequado dentro de certos parâmetros, como o senhor bem sabe", emendou Garnier.

Bolsonaro e a narrativa das redes

Antes de entrar para acompanhar o segundo dia de depoimentos, Bolsonaro afirmou a jornalistas que quer replicar horas de vídeos que circulam nas redes bolsonaristas, que estão gravados em um pen drive que ele carrega no bolso.

"Se eu puder ficar à vontade, se preparem, vão ser horas", afirmou. "Tem pronunciamento meu, tem um do Flávio Dino condenando a urna eletrônica, tem um do Carlos Lupi também, falando que sem impressão do voto é fraude. Eu não estou inventando nada", emendou.

O vídeo de Flávio Dino, que já circula nas redes há anos, diz respeito a uma declaração do atual ministro da corte entre 2009 e 2013, no início da informatização do processo eleitoral. Nenhuma delas, no entanto, foi feito durante períodos ou campanhas eleitorais.

As críticas à época sobre as urnas eletrônicas foram feitas com base em evidências compartilhadas à época pelo especialista Diego Aranha, que participou do Teste Público de Segurança (TPS) do TSE em 2012 e divulgou, em um evento com participação de Dino, as fragilidades encontradas por sua equipe.

Professor e pesquisador na área de criptografia e segurança computacional, Aranha já declarou que atualmente, com o aprimoramento do sistema, não há quaisquer evidências de fraudes eleitorais.

“Observo ainda que não poderia ser diferente, e que o objetivo de um pesquisador em segurança é exatamente este: que vulnerabilidades sejam corrigidas”, afirmou Aranha à agência de checagens em 2023.

Bolsonaro ainda ressaltou que não existem para condená-lo, mesmo diante de uma imensa quantidade de provas.

"Eu não tenho preparação para nada, não tem por que me condenar. Estou com a consciência tranquila. Quando falaram o tempo todo, "assinar o decreto...". Não é assinar decreto, pessoal. Assinar um decreto de (estado de) defesa ou de sítio, o primeiro passo é convocar os conselhos da República e de Defesa. Não foi feito", afirmou.

Assista

 

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar