Pesquisadores registraram um comportamento incomum entre macacos-prego-de-cara-branca (Cebus capucinus imitator) na ilha de Jicarón, no Parque Nacional Coiba, Panamá. Em ambiente isolado e sem predadores, os animais passaram a sequestrar filhotes de bugios (Alouatta), comportamento nunca antes documentado entre machos dessa espécie.
As imagens, coletadas por 85 câmeras entre 2017 e 2023, revelaram que um indivíduo macho, apelidado de Joker, carregou quatro filhotes de bugio, todos com menos de quatro semanas de vida. Inicialmente, pensou-se em adoção, mas o macho não oferecia cuidados nem alimentação, o que levou os pesquisadores a interpretarem a ação como sequestro. Os filhotes tentavam escapar e eram recapturados, enquanto chamados dos pais bugios eram ouvidos ao fundo.
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Entre janeiro de 2022 e julho de 2023, o comportamento foi reproduzido por outros quatro machos, totalizando 11 sequestros. Os filhotes eram carregados por até nove dias. Quatro foram encontrados mortos; os demais provavelmente não sobreviveram. A falta de alimentação adequada, como o leite materno, foi a principal causa.
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O estudo, publicado na revista Current Biology em 19 de maio, conclui que o comportamento se espalhou por aprendizado social, caracterizando uma tradição cultural emergente. A motivação, segundo os autores, é o tédio. Em Jicarón, os macacos vivem em condições de baixo estresse ambiental e exploram o meio com criatividade — inclusive utilizando pedras para quebrar nozes.
A equipe do Instituto Max Planck de Comportamento Animal, liderada por Brendan Barrett, destacou que tradições sem função prática também são observadas em outras espécies. Exemplos incluem orcas equilibrando salmões mortos na cabeça ou atacando veleiros, e chimpanzés usando folhas como enfeites na orelha.
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