O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes falou à revista The New Yorker sobre o que considera ser "o novo populismo digital extremista". A publicação divulgou nesta segunda-feira (7) uma reportagem de Jon Lee Anderson trazendo um perfil do magistrado brasileiro com o título "O juiz brasileiro que está enfrentando a extrema-direita digital".
“A extrema direita percebeu, durante a Primavera Árabe, que as mídias sociais poderiam mobilizar pessoas sem intermediários”, disse o magistrado. “No início, os algoritmos eram refinados para fins econômicos, para cativar consumidores. Então, as pessoas perceberam o quão fácil era redirecionar isso para o poder político.”
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Moraes ponderou que as mídias sociais são uma "força definidora" dos nossos tempos. “Se Goebbels estivesse vivo e tivesse acesso a X, estaríamos condenados”, pontuou. “Os nazistas teriam conquistado o mundo.”
Joseph Goebbels foi um dos principais líderes do regime nazista na Alemanha, atuando como ministro da Propaganda de Adolf Hitler entre 1933 e 1945. Foi um dos principais arquitetos da máquina de propaganda que sustentou o Terceiro Reich, usando meios de comunicação e eventos em massa para manipular a opinião pública.
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Brasil como 'campo de testes'
Na matéria, Moraes aponta que o Brasil ofereceu uma espécie de campo de testes significativo para esforços de afirmação de poder político por meio da internet. Isso porque, no país, as pessoas são particularmente ativas online e, diferentemente de outros países, o Judiciário fiscaliza e garante a legalidade do processo eleitoral.
“A extrema direita quer tomar o poder — não dizendo que se opõe à democracia, porque isso não ganharia apoio público, mas alegando que as instituições democráticas são fraudadas”, apontou o ministro. “É um populismo altamente estruturado e altamente inteligente. Infelizmente, no Brasil e nos EUA, ainda não aprendemos a revidar.”
Segundo o autor da reportagem, a entrevista de Moraes foi concedida seis semanas antes do atentado de Francisco Wanderley Luiz, homem que explodiu bombas perto do Supremo Tribunal Federal (STF) e morreu ao acioná-las, em novembro de 2024. Ou seja, a conversa aconteceu entre o final de setembro e o início de outubro.
Democracia em risco
Questionado por Lee Anderson sobre o quão perto a democracia esteve de cair no Brasil, o magistrado respondeu: “Definitivamente havia um risco”, completando: “E ainda há.”
“A estratégia era ocupar prédios do governo — não necessariamente destruí-los”, explicou na entrevista. “Mas você não pode controlar uma multidão. O objetivo real deles era entrar nos prédios, se recusar a sair e criar uma crise tão grave que o Exército seria forçado a intervir. Quando os militares chegassem, eles pediriam apoio para um golpe. Mas o plano falhou. Embora alguns líderes militares apoiassem o golpe, as forças armadas como instituição perceberam que nenhum outro poder ficaria do lado deles.”
Quando perguntado se acreditava que Bolsonaro havia planejado o levante, Moraes se esquivou da pergunta, dizendo que a investigação estava nas mãos da Polícia Federal, que é independente do Supremo Tribunal Federal. "Como posso ter que decidir sobre este caso, não posso comentar", falou Moraes.
O relatório da Polícia Federal apontando o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi divulgado semanas depois, em novembro.
Inelegibilidade de Bolsonaro
Quando perguntado sobre um eventual um cenário em que Bolsonaro poderia retomar o poder, Moraes ponderou que o ex-presidente poderia se livrar das acusações relacionadas à trama golpista, investigadas à época, mas sua inelegibilidade foi determinada em outras duas ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Mas ele [Bolsonaro] tem duas condenações do Tribunal Superior Eleitoral por inelegibilidade. Então, não há possibilidade de seu retorno — porque ambos os casos já foram apelados e agora estão no Supremo Tribunal Federal. Somente o Supremo Tribunal Federal poderia revertê-los, e não vejo a menor possibilidade de isso acontecer”, pontuou.