TRANSPORTE URBANO

Grandes cidades têm mais casas do que gente e crescem verticalmente, diz levantamento

Estudo aponta para um mercado imobiliário maior e mais ineficiente, em que "mais espaços são dedicados a um número menor de habitantes"

Itaim Bibi, São Paulo (SP).Créditos: Wikimedia Commons
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De acordo com um levantamento publicado na última quarta-feira (26) pela organização sem fins lucrativos World Resources Institute (WRI), as grandes metrópoles têm crescido verticalmente e de maneira desproporcional à sua expansão demográfica.

Isso significa que a construção de novos imóveis, sobretudo os verticais — prédios e apartamentos —, com o objetivo principal de atender à especulação imobiliária, tem aumentado numa taxa maior do que as taxas de crescimento populacional dos maiores centros urbanos do país.

"A maioria das concentrações urbanas brasileiras apresentou taxas de crescimento populacional maiores que as taxas de crescimento horizontal", afirma o estudo, "mas menores que as taxas de crescimento vertical.

Na maioria dos centros urbanos do Brasil, portanto, houve um maior "volume construído" em relação ao crescimento da densidade populacional; e, quando houve crescimento de população, ele tendia a ocorrer de forma horizontal (espraiando-se para áreas periféricas).

"A preponderância de um crescimento mais acelerado do volume construído do que nas populações urbanas, especialmente nos principais centros urbanos do pais, pode refletir um aumento da presença de tipologias construtivas ineficientes, nas quais mais espaços construídos são dedicados a um número menor de habitantes", nota.

A tendência é, então, que mais pessoas ocupem menos espaço, e, embora os centros urbanos se deparem com a estagnação populacional, o mercado imobiliário não pare de crescer.

Os dados da pesquisa levam em conta uma série temporal de cerca de 30 anos, e consideram três tipos de aglomerados urbanos: pequenos (com até 500 mil habitantes), médios (entre 500 mil e 1 milhão de habitantes) e grandes (com mais de 1 milhão de habitantes). 

"Foram identificados quatro grupos de cidades, de acordo com as tendências de expansão observada: cidades em espraiamento intenso, cidades em espraiamento moderado, cidades em estabilidade e cidades em contínua verticalização", diz o levantamento.

As grandes cidades do Brasil foram as que mais cresceram na sua forma vertical, no intuito de concentrar a oferta de serviços e o acesso a regiões centrais de interesse, além de facilitar a mobilidade urbana — mas também para servir aos interesses da financeirização do mercado imobiliário, com a construção de imóveis que, por vezes, permanecem vazios por um longo período de tempo.

Em cidades médias e pequenas, por outro lado, a maior parte do crescimento avistado pelo levantamento ocorreu de maneira horizontal, acompanhando as taxas de habitação.

Em processo de espraiamento intenso (crescimento rápido e plenamente horizontal) foram identificadas concentrações urbanas médias importantes, como Campo Grande, Cuiabá, Natal, Manaus, Palmas e Teresina; já as concentrações médias e pequenas do país encontram-se em espraiamento moderado e estabilidade (grupo em que se encontram, também, algumas poucas metrópoles, como São José dos Campos e Florianópolis).

O grupo classificado em continua verticalização é composto, por sua vez, por centros urbanos mais populosos, como é o caso de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, além de cidades em suas áreas de influência direta, conclui o estudo.

De acordo com dados captados no Censo de 2022, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), sete capitais com mais de 1 milhão de habitantes tiveram redução populacional entre 2010 e 2022, aponta a pesquisa, mas seu volume construído não respondeu a esse decrescimento.

"A taxa de crescimento vertical é superior à de expansão populacional em quase todo o período [analisado], o que indica um descompasso entre a tendência de adensamento construtivo e a densidade demográfica."

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