Sete em cada dez brasileiros (70%) dizem não confiar no Exército, na Marinha e na Força Aérea Brasileira, enquanto apenas 24% afirmam confiar e 4% não souberam responder.
É o que revela uma pesquisa realizada pela AtlasIntel para a CNN Brasil que mostra que a confiança dos brasileiros nas Forças Armadas caiu drasticamente desde 2023.
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A pesquisa foi realizada entre os dias 11 e 13 de fevereiro, com 817 entrevistados, e apresenta margem de erro de três pontos percentuais.
Queda na confiança militar
De acordo com a série histórica da AtlasIntel, o momento de maior confiança nas Forças Armadas ocorreu em abril de 2023, quando 46% da população confiava na instituição e 37% expressavam desconfiança. Desde então, o cenário se inverteu, e a confiança caiu para 36% em julho de 2023, chegando agora ao patamar de 24%.
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Segundo Andrei Roman, CEO da AtlasIntel, em entrevista à CNN, a polarização política dos últimos anos impactou diretamente a imagem das Forças Armadas:
"Durante o governo Bolsonaro, os militares foram exaltados por seus apoiadores e rejeitados pela esquerda. Após a posse de Lula, a relação se deteriorou também entre os bolsonaristas, que passaram a ver as Forças como traidoras por não terem dado suporte a um golpe de Estado."
Crise e investigações
A desconfiança da população nas Forças Armadas aumentou após revelações sobre uma tentativa de golpe de Estado envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados, incluindo o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto.
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, revelou que o então presidente articulou um golpe, mas o plano fracassou por falta de apoio do alto comando militar.
O general Marco Antônio Freire Gomes, então comandante do Exército, recusou-se a participar. Já o ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, teria demonstrado apoio, segundo a delação de Cid. Tanto Garnier quanto Bolsonaro negam envolvimento.
Além do episódio golpista, outros escândalos abalaram a credibilidade das Forças. Um exemplo foi o vídeo institucional da Marinha, divulgado em dezembro, no qual militares comparavam suas dificuldades à vida "tranquila" dos civis. A propaganda gerou revolta, especialmente após a revelação de que o irmão do responsável pelo vídeo recebia um salário líquido de R$ 216,3 mil em dólares.
Comparação com outras instituições
A pesquisa AtlasIntel também comparou a confiança dos brasileiros em diferentes instituições:
Maior confiança:
- Polícia Federal – 53% confiam / 32% desconfiam / 15% não souberam responder;
- Polícia Militar – 50% confiam / 35% desconfiam / 15% indecisos;
- Supremo Tribunal Federal (STF) – 49% confiam / 47% desconfiam / 4% não souberam responder.
Menor confiança:
- Congresso Nacional – Apenas 9% confiam, enquanto 82% desconfiam;
- Igrejas evangélicas – 18% confiam, enquanto 73% não confiam;
- Prefeituras – 24% confiam, enquanto 62% desconfiam.
Baixa adesão a pautas do Congresso
O levantamento também analisou o apoio popular a propostas em tramitação no Congresso. O resultado mostra forte rejeição a temas que podem fortalecer o Legislativo:
- 97% rejeitam o aumento do número de deputados;
- 50% são contra o controle das emendas parlamentares pelo Congresso;
- 83% rejeitam mudanças na Lei da Ficha Limpa;
- 71% são contra a PEC do Semipresidencialismo, que daria mais poder ao Congresso em relação ao Executivo.
O desafio da reconstrução da confiança
A crescente desconfiança nas Forças Armadas reflete um cenário mais amplo de crise institucional e de representatividade. Enquanto militares tentam recuperar sua imagem diante da sociedade, o Congresso Nacional segue como a instituição mais desacreditada do país.
O desafio agora para os militares será reconstruir sua imagem e demonstrar comprometimento com a democracia, enquanto o Congresso busca reconquistar a confiança popular diante de pautas impopulares e uma sociedade cada vez mais cética.