A Polícia Civil do Ceará indicou que a motivação para o rapto e a execução do adolescente Henrique Marquez de Jesus, de 16 anos, natural de Bertioga (SP), na Baixada Santista, e que foi vítima de um grupo criminoso em Jericoacoara (CE), enquanto passava férias com o pai, em dezembro do ano passado, não foi o tal gesto com as mãos que o garoto fazia nas fotos que tirava no local turístico, interpretado como uma suposta menção a uma facção do crime organizado rival à dos bandidos cearenses. O caso teve grande repercussão em todo o Brasil.
Na noite de 16 de dezembro de 2024, Henrique saiu da barraca de praia onde estava com o pai, na última noite da viagem que realizam juntos. Ele teria dito que ia para o hotel descansar porque no dia seguinte enfrentariam a viagem de volta a São Paulo. Depois disso, o adolescente nunca mais foi visto. Câmeras de vigilância registraram ele sendo carregado à força por um grupo numeroso de bandidos. Seu corpo foi encontrado com sinais de violência numa lagoa da região, dois dias depois.
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Até então, a versão que era dada como certa era a de que Henrique teria sido confundido com um integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital), a maior organização criminosa do Brasil e que opera em pelo menos 24 países, tudo porque ele aparecia fazendo sinal de “número três” com as mãos nas fotos que tirava, um gesto que serve para identificar integrantes deste bando de origem paulista. A região de Jericoacoara é dominada por uma facção filiada ao Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, inimiga do PCC. De fato, muitas fotos do garoto naquela viagem eram realizadas com o tal gesto.
Agora, segundo o inquérito da polícia cearense, surge uma outra linha de investigação, que ganha força e é vista como a motivação correta para a morte do garoto. De acordo com a apuração, Henrique teria saído do local que estava com o pai e teria ido a um ponto de tráfico comprar entorpecente. Ao chegar na “biqueira”, os traficantes estranharam o fato de ele estar usando uma camiseta com o símbolo de uma meia-lua, que seria outra referência ao PCC.
O jovem foi questionado sobre sua vestimenta e negou relação com o crime organizado de São Paulo. Os bandidos, então, exigiram que ele destravasse o celular e entregasse o aparelho para ser averiguado. Na memória e nos aplicativos de mensagens eles teriam encontrado inúmeras fotos de Henrique fazendo o “número três” com as mãos, assim como conversas em grupos e com pessoas que supostamente se identificavam como ligadas ao PCC. A polícia afirma ainda que os traficantes encontraram fotos de armas, conversas sobre roubo de motos de luxo e outros diálogos envolvendo supostamente o rapaz com integrantes da facção paulistas. A partir daí, dizem as autoridades, a sentença de morte do garoto foi decretada.
A explicação dada para se chegar a tal conclusão, diz o delegado Júlio Morais, responsável pelo caso e titular da Delegacia de Jijoca de Jericoacoara, onde o crime ocorreu, é de que os depoimentos de três dos acusados, em momentos diferentes e sem contato entre si, teriam sido iguais e narrando exatamente a mesma história.
“O Henrique não faleceu em virtude de ter feito um símbolo numa postagem no Instagram. Ele faleceu porque chamou a atenção dos criminosos por estar vestindo uma blusa, que teria um símbolo ou desenho relacionado a um grupo criminoso rival. A partir disso, os criminosos, supostamente, o julgaram integrante do tal grupo e mexeram no celular dele para buscar mais informações... Não temos absoluta certeza dessas informações. Não tivemos acesso ao celular da vítima. Ele nunca foi encontrado. A polícia crê nessa informação, porque não houve contradição das testemunhas e ela veio dos próprios envolvidos. Não tem como atestar que ela seja verídica, mas eu acredito que seja”, disse Morais ao portal Metrópoles.
Em entrevista ao portal g1, o pai da vítima, o empreiteiro Danilo Martins de Jesus, de 33 anos, refutou tal tese e disse que não acredita que o filho teria ido comprar drogas na cidade turística cearense. Ele ainda questionou a versão da camisa com o tal símbolo da meia-lua.
“O que eles [a polícia] querem fazer é, como fazem sempre, inverter a situação para o lugar [Jericoacoara] não perder os turistas... "[A camisa que ele estava usando] Era azul escura, da marca Adidas, a mesma que o adolescente vestia na foto em que aparece fazendo o símbolo "tudo três... Já aconteceu, eles podem falar o que quiserem, não vai adiantar de nada. Então, eu não estou fazendo questão [de saber das coisas] porque eu sei que a Justiça é muito fraca aqui no Brasil”, reclamou o pai ao g1.