Não se sabe se é delírio ou megalomania, ou talvez as duas coisas, mas Jair Bolsonaro (PL) deu uma justificativa à CNN Brasil para insistência em pedir de volta seu passaporte e exigir autorização da Justiça para comparecer à posse do presidente eleito dos EUA, Donald Trump.
“Não cometi crime algum. Aguardo o passaporte para representar o Brasil lá fora [nos EUA] já que o atual governante do Brasil representa a Venezuela, a Nicarágua, isto é, países que não são democráticos”, disse ele à emissora a cabo.
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A fala do ex-presidente de extrema direita tem tantas camadas absurdas que é necessário explicar como as coisas funcionam nessa cerimônia. Em primeiro lugar, o rito de posse do presidente norte-americano, de Trump ou de qualquer outro, é visto como um ato doméstico, ou seja, chefes de Estado e de governo não são convidados e os países apenas enviam seus embaixadores locais como uma forma de respeito da comunidade internacional.
Lula, que naturalmente não é amigo nem aliado de Trump, não foi convidado, assim como os demais estadistas de todo o planeta também não foram. O Ministério de Relações Exteriores do Brasil, o Itamaraty, foi notificado para participar da cerimônia e confirmou que enviará a embaixadora Maria Luiza Viotti para representar o país oficialmente.
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Bolsonaro também esquece, em seu permanente delírio, que não tem qualquer cargo representativo no Brasil. Na prática, ele é só um cidadão comum, um político que presidiu a nação e que sequer conseguiu ser reeleito. Aliás, se teve algo que não conseguiu fazer durante os quatros anos em que ocupou o Palácio do Planalto foi representar o Brasil internacionalmente, acumulando dezenas de gafes, ausências e papelões, como comer pizza na calçada em Nova York após ser ignorado por mandatários de todo o mundo na Assembleia Geral das Nações Unidas.
Outro fato que chama a atenção é a história rocambolesca do convite farsesco apresentado por seu filho Eduardo, anexado ao pedido por liberação do passaporte ao STF por parte de seus advogados. De fato, não estranharia que Trump o deixasse comparecer às festividades e atos oficiais uma vez que Bolsonaro aparecesse em Washington, mas o que vem ficando cada vez mais claro é que não houve convite algum, apenas aquela mensagem tosca que pode ser adquirida por qualquer pessoa que envie um e-mail para o tal endereço que consta no pedido de autorização encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes, o que aliás já ficou comprovado por centenas de internautas que mandaram o correio eletrônico e também receberam a “cartinha” para comparecer à posse.