ELEIÇÕES 2024

Cadeirada empurrou Marçal para extremistas de Bolsonaro e o afastou de "moderados", diz pesquisa

Estudo conduzido com eleitores em grupos de WhatsApp revela o que pode ser uma das explicações para a queda - ou ao menos o freio - do ex-coach nas pesquisas de intenção de votos

Datena dá cadeirada em Pablo Marçal no debate da TV Cultura.Créditos: Reprodução/TV Cultura
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Um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT IDDC) em grupos de WhatsApp mostra a repercussão da cadeirada desferida por José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB) e revela o que pode ser uma das explicações para a queda - ou ao menos o freio - do ex-coach nas pesquisas de intenção de votos.

Pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (19) mostra que Marçal ficou estacionado nos 19% do levantamento anterior à cadeirada, enquanto Guilherme Boulos (PSOL) oscilou um ponto para mais, chegou aos 26% e encostou em Ricardo Nunes (MDB), que manteve os 27%. Datena e Tabata Amaral (PSB), seguem com 6% e 8% respectivamente.

Já a Quaest, divulgada no dia anterior, mostrou uma queda de 3 pontos do ex-coach, que foi de 23% para 20% e descolou do primeiro pelotão. Nunes está numericamente à frente com os mesmos 24% da pesquisa anterior. Boulos subiu dois pontos e foi a 23%. O estudo, no entanto, mostra que Datena oscilou 2 pontos para mais, chegou a 10% e ultrapassou Tabata, que subiu um ponto, de 7% para 8%.

A pesquisa nos grupos de WhatsApp divulgada pelos cientistas políticos João Feres Júnior e Carolina de Paula, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) em artigo no jornal O Globo desta segunda-feira (23) mostra que, diferentemente do que houve com a facada em Jair Bolsonaro (PL) em 2018, a cadeirada fez com que Marçal perdesse a "admiração" de uma parcela do eleitorado da direita onde vinha conquistando intenções de votos.

O estudo, conduzido pelos pesquisadores no projeto Monitor do Debate Público, divide os eleitores de grupos de WhatsApp em cinco nichos: bolsonaristas convictos (votaram em Bolsonaro no 2º turno e apoiam o 8 de janeiro), bolsonaristas moderados (votaram em Bolsonaro no 2º turno mas não apoiam o 8 de janeiro), flutuantes (não votaram em Lula ou em Bolsonaro), lulodescontentes (votaram em Lula, mas não aprovam o governo) e lulistas (eleitores de lula que aprovam o governo).

Segundo a pesquisa, realizada sempre com os mesmos eleitores, antes da cadeirada, Marçal tinha apoio dos "convictos", que se dividiam entre os que achavam o ex-coach muito combativo e aqueles que o rejeitavam por ter se desentendido com Bolsonaro; e os moderados, que "manifestaram simpatia pelo candidato, avaliando-o como muito inteligente e comparando sua autenticidade com a de Bolsonaro, no início da carreira".

Os eleitores dos demais grupos não gostavam do ex-coach, mas alguns participantes chegaram a manifestar "admiração por sua capacidade de articulação".

Após a cadeirada, as opiniões mudaram e Marçal foi jogado no colo dos apoiadores extremistas de Bolsonaro, que o elogiam "por sua astúcia e inteligência ao conseguir desestabilizar o adversário".

"Na visão do grupo, se eleito, ele dominaria o jogo político, sabendo lidar com aliados e oposição", dizem os pesquisadores, em um sinal de que os extremistas podem adotar Marçal como um pós-Bolsonaro.

Já os apoiadores "moderados" do ex-presidente, "reprovaram, por unanimidade, o comportamento do candidato, por sua violência verbal", se afastando de vez do ex-coach. Nos outros três grupos, a rejeição foi fortalecida e Marçal completamente escanteado.

"O resultado é, em tudo, coerente com as pesquisas mais recentes, que mostram queda na intenção de voto no candidato. E isso é má notícia para a campanha de Marçal", dizem os pesquisadores.

Segundo o estudo, a cadeirada deixou um improvável segundo turno entre candidatos da direita ainda mais distante.

"Isso é façanha difícil de alcançar e mais difícil ainda de administrar. Isto é, era inevitável que as campanhas de Nunes e Marçal se envolvessem em atritos, particularmente na disputa pela bênção eleitoral de Bolsonaro", dizem.

Debates

A pesquisa ainda sinaliza o motivo da mudança de comportamento do ex-coach nos debates após a cadeirada. 

Na última sexta-feira (20), o ex-coach se travestiu de um personagem "paz e amor", se vitimizou e disse que até então mostrou seu "pior lado", mas que, dali em diante, assumiria uma "postura de governante".

"Eu nunca fui o palhaço, eu sempre respondi aos palhaços. As pessoas querem saber a sua pior versão e sua melhor. A minha pior eu já mostrei nos debates. A partir de agora vocês vão ver alguém que tem postura de governante", declarou Marçal, que foi isolado no debate pelos outros participantes.

"A cadeirada mudou tudo. Datena parece ter ganhado motivação pessoal, e suas intenções de voto reagiram na última pesquisa. Marçal, antes, poderia contar com uma transferência de votos vindos de Datena na boca da urna, resultado da sangria que sempre ocorre no primeiro turno com os candidatos que ficam na retaguarda das pesquisas, mas agora tal migração vai desproporcionalmente beneficiar Nunes", explicam os cientistas políticos da Uerj.

"Em suma, provavelmente teremos um segundo turno entre Nunes e Boulos, o que é uma boa notícia para a cidade de São Paulo, que se livra do risco de ter Marçal como prefeito, mas uma notícia ruim para Boulos, que terá imensa dificuldade de derrotar a coalizão de direita que se formará em torno do atual prefeito", concluem.