A fortuna de mais de R$ 200 milhões de Pablo Marçal (PRTB), que se aventurou na política e que atualmente tumultua a disputa à prefeitura de São Paulo, pode ter origem nos cerca de R$ 80 milhões roubados pela organização criminosa implodida em 2005 pela Polícia Federal (PF) e que tinha o ex-coach como um dos principais integrantes.
Nascido em uma família de classe média baixa de Goiânia, Marçal declarou um patrimônio de R$ 193.503.058,17 ao registrar sua candidatura neste ano. No entanto, dias depois, com a divulgação da omissão de bens e patrimônio, ele se retificou e afirmou que seu patrimônio ultrapassa os R$ 200 milhões.
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O valor é mais que o dobro dos R$ 96.942.541,15 declarados por Marçal dois anos atrás, quando chegou a se lançar à Presidência, mas acabou disputando uma cadeira na Câmara. A candidatura, no entanto, foi indeferida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No entanto, no livro Pablo Marçal: a trajetória de um criminoso, lançado pelo jornalista Cristiano Silva, do site Goiás 24 horas, uma fonte próxima de Marçal revela que a meritocracia e as ferramentas de coach não são, necessariamente, o motivo de ter transformado o menino goiano em um empresário milionário.
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Operação Pegasus
A fonte próxima a Marçal, ouvida pelo jornalista, foi quem primeiro revelou ao próprio Cristiano Silva que Marçal foi um dos investigados na megaoperação Pegasus, desencadeada pela PF em agosto de 2005 para desmantelar a maior quadrilha de hackers do Brasil, especializada em invasão de contas bancárias pela internet.
Na operação, desencadeada em 27 de agosto de 2005, os agentes da PF cumpriram 126 mandados de prisão expedidos pela Justiça de Goiás.
A quadrilha agia desde 2001 e havia desviado, até então, pelo menos R$ 80 milhões dando golpes em correntistas de todos os bancos do país, segundo a investigação.
No livro, a fonte levanta uma questão inédita, que foi confirmada por Cristiano Silva nos autos do processo: onde estão os R$ 80 milhões desviados pela quadrilha que estariam em um cofre?
"Apenas três pessoas sabiam do local exato e da senha. O dono do negócio, pastor Danilo, Pablo e uma terceira pessoa. Quando a casa caiu para todo mundo, um desses três voltou para casa e continuou a vida sem cumprir a pena. Ele limpou o cofre e ficou milionário da noite para o dia", conta a fonte no livro.
Marçal foi o único membro da quadrilha que não chegou a ser preso - e se gaba até hoje por isso.
"Todo rico tem um passado para contar sobre sua fortuna, até quem recebe herança tem o que contar. Já observou que Pablo Marçal é um milionário sem passado? De repente, rico, conselheiro do mundo, pai da sabedoria... Quem deu a ele o pote de ouro ou a mala cheia de grana? Deus ou o capeta? Estranho, não? Como explicar a fortuna dele e a desgraça dos outros?", indaga JP, como é identificada a fonte pelo jornalista no livro.
Ao mudar seu domicílio eleitoral para São Paulo, em 2022, Marçal já era conhecido no mundo dos coachs. Mas, muito mais pelas gafes, do que pelo seu poder de persuasão e financeiro.
Em janeiro daquele ano, o coach ocupou os noticiários ao colocar em risco de vida 32 pessoas que levou para uma expedição sem guia no Pico dos Marins, na cidade de Piquete.
Meses depois, ele registrou na Justiça Eleitoral o patrimônio de R$ 96.942.541,15 - R$ 16 milhões a mais do que teria sido roubado pela quadrilha nos golpes em clientes de bancos.
Dois anos depois e já famoso pelas provocações e polêmicas nas redes, Marçal declara mais que o dobro do patrimônio e se lança candidato por um partido, o PRTB, cujo presidente, Leonardo Avalanche, e assessores estão envolvidos com figuras do PCC e com o tráfico de drogas.
O livro de Cristiano Silva lança luz sobre a "meritocracia" do ex-coach e dúvidas sobre a origem de sua fortuna milionária. A obra sinaliza que muito além da política, Marçal segue sendo um caso de polícia.