Uma pesquisa realizada pelo Datafolha e divulgada neste domingo (30) aponta que ao menos 70% da população do Rio Grande do Sul acredita que as inundações que assolaram o estado no final de maio poderiam ter sido evitadas.
O levantamento indica que a maioria dos gaúchos atribui a responsabilidade pelo desastre aos governos federal, estadual e municipal, além de parlamentares e da própria população. Na região metropolitana da capital, oito em cada dez residentes consideram os danos evitáveis, enquanto 18% discordam.
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Já no interior, a percepção é ligeiramente distinta, com 67% dos entrevistados indicando que os estragos poderiam ser prevenidos. O levantamento recente revelou que uma ampla maioria dos gaúchos responsabiliza as prefeituras pelos eventos recentes, com 85% dos entrevistados atribuindo culpa, divididos entre 44% que mencionam "muita culpa" e 41% que apontam "um pouco de culpa".
O governo estadual também figura como alvo de críticas, com 83% dos gaúchos mencionando responsabilidade em diferentes graus. No entanto, o governo federal, que realizou várias ações no RS durante e após a tragédia, foi responsabilizado por 80% dos entrevistados.
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A pesquisa abrangeu mais de 2 mil brasileiros em todas as regiões do país, incluindo 567 moradores do Rio Grande do Sul. A margem de erro para a amostra estadual é de 4 pontos percentuais para mais ou para menos, com uma confiabilidade de 95%.
- 83% dos gaúchos consideram o governo do Rio Grande do Sul culpado pelas inundações;
- 80% responsabilizam o governo federal;
- 75% culpam os parlamentares;
- 65% acreditam que a própria população teve responsabilidade no desastre.
Leite atropelou o Código Ambiental do RS
No primeiro ano de seu mandato, em 2019, o governo de Eduardo Leite (PSDB) fez alterações no Código Ambiental do Rio Grande do Sul, que passou por nove anos de debates, audiências, refinamentos e sofreu modificações em 480 pontos da legislação ambiental estadual.
Foram apenas 75 dias para o projeto de Leite passar da apresentação em setembro de 2019 à aprovação pela sua base na Assembleia Legislativa do RS em 11 de dezembro do mesmo ano. A discussão foi conduzida de forma tão acelerada que nem sequer passou pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia. Além disso, os técnicos da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) não foram consultados. Leia a matéria completa na Fórum.
Porto Alegre: sistema antienchente passou por muitas privatizações
O sucateamento do sistema ao longo de sucessivas gestões fez com que o sistema de contenção das cheias dos rios Guaíba e Gravataí, inaugurado na década de 1970, ficasse vulnerável e não funcionasse como deveria. Mais de 5 décadas após sua inauguração, o sistema antienchente, que havia sido projetado para suportar o nível da água em até 6 metros, mostrou graves falhas de manutenção. Isso ocorreu apesar de Porto Alegre ter se preparado para se proteger das inundações após a enchente histórica que a destruiu em 1941 e de outra em 1967.
No sistema, encontram-se lacunas de até 10 cm entre as portas e o muro, sem qualquer vedação, motores de comportas que nunca foram substituídos, além de bombas que não operaram como deveriam e outras que foram roubadas. A única vez que o sistema foi reformado foi em 2012, sob o governo de Tarso Genro (PT), quando ganhou equipamentos mais mecanizados.
Sob governos posteriores, como o de José Ivo Sartori (MDB) e Eduardo Leite (PSDB), o sistema antienchente não recebeu mais manutenções, embora com avisos alarmantes de chuvas e temporais para a região Sul várias vezes. De acordo com informações fornecidas pela Prefeitura de Porto Alegre, não houve investimentos no sistema antienchente em 2023. A partir de 2022, observou-se uma queda nos recursos destinados à melhoria das estruturas. Problema agravado pelo atual prefeito, Sebastião Melo (MDB), que teria sucateado o Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE). Leia mais nesta matéria da Fórum.
Assista entrevista de Tarso Genro à Fórum