O coach Pablo Marçal, atualmente pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB de Levy Fidelix, é um verdadeiro fenômeno nas redes sociais. Ainda que esteja longe de uma vitória eleitoral na maior cidade do país, ele é, sem dúvidas, o postulante que obtém mais engajamento nas plataformas.
Aos 37 anos, supera em 7 vezes a média dos principais candidatos – Guilherme Boulos (Psol), Ricardo Nunes (MDB), Tabata Amaral (PSB) e Kim Kataguiri (União Brasil) – em volume de buscas no Google. Os dados são de levantamento da consultoria Bites, publicado por Malu Gaspar em O Globo, e se referem à primeira semana de junho.
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Entre as principais redes sociais, ele prefere o YouTube e o Instagram. No primeiro conta com mais de 3,3 milhões de inscritos; no segundo, com mais de 10 milhões de seguidores. Facebook e X, o antigo Twitter, não estão entre as preferidas de Marçal. Ele faz postagens nelas com menor intensidade, mas mesmo assim, somadas as redes, chega a quase um milhão de adeptos.
Marçal é conhecido por situações inusitadas, como a vez em que levou um grupo de adeptos para uma trilha na montanha em meio a uma tempestade e quase causou uma tragédia, ou mais recentemente por ter se envolvido em polêmicas acerca do colapso climático do Rio Grande do Sul. Ele definitivamente engajará fãs e haters.
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Um ano atrás, Bruno da Silva Teixeira, de 26 anos, morreu após sofrer uma parada cardíaca durante uma maratona improvisada realizada pelo grupo empresarial comandado pelo coach em Alphaville, na Grande São Paulo. A vítima era um prestador de serviço para uma das empresas. De acordo com o Boletim de Ocorrência (BO) registrado em uma delegacia de Barueri (SP), Bruno corria com um grupo de funcionários da XGrow por volta das 22h quando teve um mal súbito e caiu. Ele teve uma parada cardíaca e foi levado de carro até o Hospital Albert Einstein, onde os médicos tentaram reanimá-lo. Seu óbito foi declarado às 23h20 de 5 de junho de 2023.
Além disso, seu jeito e sotaque interioranos, que em simbiose com seu estilo de vida luxuoso o fazem parecer uma estrela do sertanejo universitário, também terão o efeito de atrair seguidores. Jovens evangélicos e oriundos do mercado informal seriam as principais características desse público, que se identificam com Marçal e recorrem aos seus conselhos.
Mas mesmo com tudo isso em mãos, é no Discord que ele realmente organiza o seu próprio ‘gabinete do ódio’. A relação com a prática adotada pelo governo Bolsonaro foi feita pelo jornalista Guilherme Caetano, atualmente em O Globo, nas redes sociais. De acordo com a apuração do profissional, é através dessa plataforma que Marçal organiza verdadeiras competições mensais entre seus milhões de seguidores, com premiações de até R$ 10 mil para que produzam cortes das suas falas e as façam viralizar.
Caetano aponta que a comunidade “Cortes do Marçal” no Discord tem quase 100 mil membros e é nela que o incentivo para a produção dos cortes é feita. Dessa maneira, os membros criam suas próprias páginas para divulgar a produção e as 30 melhores colocadas em termos de engajamento recebem as premiações.
O primeiro colocado fatura R$ 10 mil, o segundo R$ 7 mil e o terceiro R$ 5 mil. Esses três primeiros colocados ainda ganham vagas para os cursos do coach. O quarto colocado leva R$ 4 mil, o quinto e o sexto R$ 3 mil e o valor vai diminuindo até os R$ 500 pagos para quem atingir do 23º ao 30º lugar. Os vencedores são anunciados na própria comunidade.
Entre abril e maio, chegou a ser aberto um concurso com premiação total de R$ 70 mil. De acordo com o jornalista supracitado, só os 10 primeiros colocados conseguiram, somados, mais de 230 milhões de visualizações. É uma verdadeira “indústria de cortes”, como o próprio Pablo Marçal define.
“A gente criou uma indústria de cortes só que está aparecendo muito rebelde no meio, que estão querendo os pagamentos”, diz Marçal aos risos em vídeo publicado no Instagram [clique aqui para assistir] por uma das contas que fazem seus cortes. Na mesma peça, ele vai fazer a convocatória aos seguidores e explicar a razão pela qual decidiu fomentar a atividade.
Os conteúdos, obviamente, são favoráveis a Marçal. Tanto que ele menciona os “rebeldes” no vídeo, que não receberiam pagamentos. Além disso, há uma ampla divulgação do tipo de fake news que acompanhamos em maio, sobre as enchentes no RS. A apuração de Guilherme Caetano aponta que ocorre uma espécie de terceirização da difusão de desinformação e também de ataques digitais a críticos, adversários e “rebeldes”.
“Só temos 3 públicos: a tropa gigante que faz vídeos para nós, corta e posta sem parar; tem os simpatizantes que não participam do rolê - se você é simpatizante e está postando, pode entrar no Discord e ganhar dinheiro. Ganhar não, fazer, porque eu estou pagando. Tem também uma galera que a gente paga da comédia, mas tem os rebeldes. Posso pagar também para você não parar. Tem portais que estão fazendo sem parar e estão sendo patrocinados. Não aguento mais gastar milhões com tráfego pago, melhor gastar com a turminha aí fazendo vídeo”, disse o Coach no mesmo corte.
Ainda segundo a apuração de Caetano, Jocelei Alcântara, um dos parceiros de Marçal, ensina os seguidores a empreender o esquema em busca da promessa de sucesso financeiro. Ele cobra R$ 97 pela inclusão na comunidade de cortes. É por isso que os conteúdos acusados de propagar fake news, sobretudo os recentes acerca do desastre gaúcho, raramente saem diretamente das contas de Marçal.
Alguns desses conteúdos foram denunciados pela Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) nas últimas semanas, e a Polícia Federal passou a investigar.