ESCÂNDALO

Porto Alegre: Secretário de Assistência Social sai de férias no meio do colapso e pede exoneração

Léo Voigt é também o responsável pela Pousada Garoa, que pegou fogo no centro da cidade; Ele deixaria o adjunto em seu lugar para ir à Europa, mas achou melhor sair após o escândalo ser divulgado nas redes sociais

Léo Voigt, ex-secretário de Desenvolvimento Social de Porto Alegre.Créditos: Prefeitura Municipal de Porto Alegre
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Léo Voigt, o agora ex-secretário de Desenvolvimento Social de Porto Alegre, resolveu sair de férias para a Europa a fim de comemorar seu aniversário de casamento justamente numa semana em que além do Rio Grande do Sul viver uma crise climática sem precedentes, também é investigado pelo episódio do incêndio à Pousada Garoa, em que 10 pessoas morreram no estabelecimento que atendia a população em situação de rua no centro da cidade por convênio com a Prefeitura.

A deputada estadual Laura Sito (PT) explicou para a reportagem que Voigt tinha reunido sua equipe na última sexta-feira (3), quando a capital gaúcha já começava a inundar, para comunicar suas férias no “velho continente”. A Prefeitura, no entanto, teria mantido o descanso do secretário em sigilo.

De acordo com o comunicado repassado à equipe da secretaria e aos demais colegas de Prefeitura, Voigt encarregou Jorge Brasil, o secretário adjunto, como seu substituto.

“Caro (a) colega. Viajarei amanhã ao Exterior. O plano construído há um ano se revelou impostergável, apesar das emergências todas. Jorge Brasil assume a titularidade da SMDS e peço que dispensem semelhante tratamento e inclusão a ele para mantermos, ou melhorar, nosso padrão de entregas. Jorge Brasil está pleno em todas as tarefas e conto com teu apoio a ele, e compreensão comigo. Abraço e até a volta! Léo Voigt SMDS”, diz o comunicado do ex-secretário.

Nesta terça-feira (7) parlamentares da oposição, entre eles vereadores e deputados estaduais, descobriram a trama e a divulgaram nas redes sociais. Laura Sito explica que ao ver o escândalo chegar ao público, a Prefeitura se viu obrigada a emitir uma nota. Nesse meio tempo, o próprio Voigt teria pedido exoneração.

“A Prefeitura de Porto Alegre informa que Léo Voigt pediu exoneração nesta terça-feira, 7, do cargo de secretário municipal de Desenvolvimento Social. O ato será publicado no Diário Oficial desta quarta-feira, 8. A pasta será assumida interinamente pelo adjunto Jorge Brasil”, a nota assinada pelo Gabinete de Comunicação Social da Prefeitura de Porto Alegre.

“Fugiu da confusão”

Para Laura Sito a viagem de Voigt teria sido um subterfúgio para sair do Brasil em meio às investigações que apuram o incêndio da Pousada Garoa, no centro de Porto Alegre. E pior ainda, ele teria se aproveitado das atenções voltadas às enchentes para deixar o país.

“Ele aproveitou a confusão das chuvas para sair da confusão do incêndio em que morreram 10 pessoas”, disse.

O incêndio ocorreu na madrugada de 26 de abril, uma sexta-feira, e produziu 10 mortos e 15 feridos. O fogo, de acordo com os bombeiros, começou por volta das 2h da madrugada e só foi controlado em torno das 5h.

Segundo o Corpo de Bombeiros, o espaço funcionava de forma irregular, não tinha alvará ou plano de proteção contra incêndio. A corporação informa também que a proximidade entre os quartos fez com que o fogo se alastrasse rapidamente e que as pessoas fossem impedidas de sair.

O coordenador municipal de Proteção e Defesa Civil de Porto Alegre, coronel Evaldo de Oliveira Junior, informou ao Zero Hora, jornal de Porto Alegre, que, "preliminarmente, a informação é que se trabalha também com a hipótese de um incêndio criminoso". “Existem informações de que o indivíduo poderia ter entrado na pousada na madrugada”, disse.

Em reportagem do Zero Hora da última semana, um ex-funcionário das Pousadas Garoa revelou que uma servidora da Prefeitura avisava com antecedência as datas em que o poder público faria vistorias no local.

De posse dessas informações, o proprietário e os gestores então conseguiriam agilizar uma limpeza e maquiar problemas estruturais e de higiene do local antes que os funcionários da Fundação de Assistência Social e Cidadania chegassem.

Esses funcionários jamais teriam entrado nos quartos disponibilizados para a população de rua e faziam apenas “inspeções rápidas”. O jornal conversou com a servidora que confirmou a prática e a justificou por conta da “privacidade dos hóspedes”.

Uma tabela referente a julho de 2023 mostra as datas das inspeções em diversas unidades, incluindo a que sofreu com o incêndio. O documento foi divulgado pela reportagem. Entre outras coisas, aponta que as vistorias estavam agendadas para os dias 5, 12, 19 e 27 daquele mês. O ex-funcionário - que trabalhou por 5 anos nas Pousadas Garoa - afirmou que o arquivo foi compartilhado num grupo de WhatsApp da empresa semanas antes.

Algumas mensagens trocadas no grupo de WhatsApp revelaram preocupação com as vistorias. Uma pessoa identificada com o nome da empresa diz que os funcionários não devem deixar as inspeções serem realizadas sem a presença de um representante das Pousadas Garoa.

Na mesma mensagem, a pessoa também afirma que um segurança identificado como “Sanchez” chegou a impedir a entrada de funcionários da Prefeitura que fariam inspeções.

Em outra mensagem, um usuário identificado como “Pousada Escritório” reclamou da sujeira em uma das unidades, que não correspondia “com as fotos mostradas no site”. “Uma verdadeira imundice”, escreveu.