O professor preso injustamente por um crime que aconteceu enquanto estava dando aula em outra cidade foi solto na tarde desta quinta-feira (18), após o juiz voltar atrás no pedido de habeas corpus (HC) da defesa do docente.
Clayton Ferreira Gomes dos Santos foi preso após ser "identificado" em um reconhecimento fotográfico feito por uma idosa que foi vítima de roubo e sequestro em outubro do ano passado. Ela afirmou ter reconhecido Clayton nas fotos, mas havia provas de que ele estava dando aula de educação física naquele mesmo horário. Além disso, o crime aconteceu em Iguape, município de São Paulo distante 200 km da capital, onde o professor lecionava.
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A defesa ainda apresentou mais um ponto para refutar a prisão de Clayton: a polícia afirmou que o professor dirigiu o carro usado nos crimes, mas ele não tem carteira de habilitação.
Apesar das provas, o pedido de habeas corpus foi negado nesta quarta-feira (17). Porém, após a repercussão do caso, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) mandou soltar o professor, alegando que a prisão configura constrangimento ilegal, já que teve base em reconhecimento fotográfico, além de Clayton não ter atrapalhado as investigações nos cinco meses em que esteve solto. Além disso, as provas apresentadas pela defesa mostram que ele estava dando aula na hora que o crime ocorreu.
Apesar da liberdade, ele não poderá voltar a dar aulas enquanto a investigação não terminar.
Em entrevista à Agência Brasil, Clayton contou que esperava que após explicar tudo à polícia, de que nunca esteve nem conhece a região, seria imediatamente solto. “Nunca achei que ia ter que ficar preso por três noites e dois dias. Foi muito difícil, mas, graças a Deus, tinha pessoas ali que me ajudaram muito a ficar forte, a não deixar o psicológico abalado”, disse.
Ele comemorou a decisão e afirmou que vai continuar ajudando na investigação. “Mas você sair, ter sua liberdade, ficar com a sua família, as pessoas ao seu redor que lutam por você todos os dias, esposa, amigos, enteados, é um alívio. Minha esposa e meus amigos ajudaram muito, mas eu só soube da repercussão quando vi a imprensa, que também me ajudou bastante", acrescentou.
Racismo
Responsável pela defesa de Clayton, o advogado Danilo Reis apontou racismo na prisão de seu cliente. O método usado para identificar o verdadeiro criminoso foi o reconhecimento fotográfico, que acarreta em muitas prisões injustas, principalmente, de pessoas negras.
"Eu acredito que é mais um caso vinculado a preconceito racial e a falha do inquérito policial, que se limita a esse tipo de reconhecimento fotográfico, que é precário", afirmou o advogado. "Mais uma pessoa negra, de comunidade, sem apontamento negativo criminal algum, está em cárcere por causa de um mero reconhecimento fotográfico", acrescentou.