TERROR NO LITORAL

Política da morte: PM mata 38 em 3 semanas na Baixada e Tarcísio naturaliza chacinas

Aplaudido por gente sádica e disfuncional, o bolsonarista implantou um regime curioso em que o morto é que precisa provar sua inocência. Região se esfarela em violência

Créditos: Rota/Divulgação
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A Baixada Santista vivencia uma ação de violência por parte da Polícia Militar que até esta quarta-feira (28), num período de pouco mais de três semanas, já deixou 38 pessoas mortas na região. Antes de qualquer avaliação sobre o que se passa nessa área metropolitana do litoral de São Paulo, com uma população de aproximadamente dois milhões de habitantes, é preciso reconhecer que uma onda de criminalidade acima da média nacional já vinha se registrando há algum tempo por lá.

No entanto, as circunstâncias que levaram à tal Operação Escudo, depois agregada à já tradicional Operação Verão, é que surpreendem e causam estranheza em quem preza por um mínimo de civilidade e urbanidade no trato com a cidadania em geral.

As ações mortais não começaram por conta do aumento da criminalidade, tampouco por uma "guerra" entre facções, como as ocorridas em outros estados e regiões do país. Elas surgem e eclodem devido ao assassinato de policiais militares. Sim, como uma política oficial de vingança e retaliação, tudo sob os auspícios do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A morte do soldado Wesley Cosmo, da Rota, uma unidade de elite do policiamento de Choque, no dia 2 deste mês, foi o estopim para que viaturas e contingentes dos mais variados batalhões de todo o estado passassem a entrar em comunidades periféricas para deixarem um rastro interminável de sangue e terror.

É preciso reconhecer que muitas dessas mortes foram de indivíduos ligados ao crime organizado, que efetivamente tentaram reagir a tiros à investida dos PMs em operação. Por outro lado, os casos de execuções sumárias, inclusive de catador de recicláveis, de um rapaz cego (que teria puxado uma arma para os policiais) e de um balconista de farmácia sem qualquer histórico de problemas com a Justiça, não param de aumentar.

Não há novidade alguma em ações violentas por parte da polícia no Brasil. Aliás, grandes chacinas e massacres, com número de vítimas até maiores, vira e mexe são notícia no país. A diferença é que existe, nesses outros casos, pelo menos uma posição, ainda que cínica, dos governantes prometendo apurar "excessos" e fazendo valer, ainda que para inglês ver, os sagrados direitos constitucionais e humanos a esses alvos do morticínio. Só que dessa vez, não. A ordem é para fuzilar e cada morte é comemorada como uma conquista.

No último fim de noite (27), quatro pessoas foram mortas num bairro pobre de São Vicente. Dois eram menores, um era um jovem de 18 anos e o quarto era um homem com 32 anos. Eles teriam reagido, segundo o registro (padrão) da ocorrência. Podem ter reagido, assim como podem não ter feito nada. O que assusta é que neste caso, assim como em todos os outros, familiares do morto é que têm que correr atrás da inocência do ente. Não uma só investigação séria e real que aponte as reais circunstâncias dessas ações.

É necessário salientar tal questão porque nestas semanas de “Operação Verão”, não foram poucos os casos de carros metralhados em vias públicas movimentadas, jovem baleado no peito sumariamente após parar a moto por ordem da PM e sair de cima do veículo, balas acertando gente sentada na soleira de um bar tomando cerveja. Em contrapartida, quando alguém questiona essas incursões “misteriosas” no dia a dia, uma legião de defensores do morticínio aparece.

Na fila do mercado, numa corrida de carro de aplicativo, na mesa de um bar de uma região mais nobre, uma cambada de adultos sádicos e disfuncionais entendem que a polícia deveria ter carta branca para decidir quem vive e quem morre. Se são bandidos, têm que morrer, mas se não são, têm que provar que não são. É uma visão simplista, perversa e nauseabunda de humanidade, civilidade e cidadania.

Em casos assim, o que se espera é o mínimo de zelo e preocupação por parte de quem chefia as forças de segurança em última instância. Pode ser o mínimo mesmo, mas no caso do estado de São Paulo neste momento, nem isso há. Tarcísio de Freitas e seu secretário de Segurança Pública, o “capitão” Guilherme Derrite, cujo grande feito que o alçou à política foi o fato de ter sido oficial justamente da Rota, refestelam-se. Essas chacinas foram totalmente naturalizadas, como se fossem apenas mais um aspecto a ser venerado na vida cotidiana do “cidadão de bem”. Em certas ocasiões, parece até que cada morte é um voto, e que quanto mais voto, melhor.