POLÍCIA DO TARCÍSIO

Viatura com placa alterada estava no local onde delator do PCC foi morto horas antes do crime

Imagens de câmeras do Aeroporto de Guarulhos estão sendo analisadas para ajudar a esclarecer assassinato de Vinícius Gritzbach

Carro da Polícia Civil com placa adulterada no Terminal 2 do Aeroporto de Guarulhos horas antes do assassinato de Vincius Gritzbach.Créditos: Reprodução de vídeo
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Novas evidências surgem no caso do assassinato de Vinícius Gritzbach. De acordo com o programa Fantástico, da TV Globo, horas antes do assassinato do empresário, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, uma viatura descaracterizada com a placa adulterada esteve no local do crime. Esse veículo foi utilizado de forma não registrada pela polícia. 

De acordo com fontes ouvidas pelo programa, o policial civil Alfredo Alexander Raspa da Silva, ao volante da viatura, justificou à Corregedoria que fez uso pessoal de um carro oficial para se deslocar ao aeroporto. Ele alegou ter adulterado a placa para evitar ser reconhecido.

O policial informou que estava de férias e se dirigiu ao aeroporto para pegar um voo para Porto Alegre, onde ficaria por dois dias. O Fantástico teve acesso a imagens de vigilância do Aeroporto de Guarulhos, que estão sendo usadas na apuração do caso.

Às 15 horas, o veículo circulou pela área de desembarque do Terminal 2 do Aeroporto Internacional de Guarulhos. A placa do carro apresenta uma adulteração evidente: a primeira letra foi alterada com fita adesiva para parecer um "a", mas a letra verdadeira era um "F", que corresponde ao número da placa de uma viatura descaracterizada da Polícia Civil de São Paulo.

Alfredo estacionou o carro no terminal 2 e, às 14h25, iniciou sua caminhada. O ponto onde Vinícius foi executado ficava ali. O voo de Alfredo sairia por volta das 15h do terminal 1, a apenas três quilômetros dali, onde também há estacionamento.

O policial relatou ter perdido o voo e, por isso, foi para casa. No entanto, uma apuração do Fantástico revelou que ele permaneceu no aeroporto por várias horas, sendo visto no terminal 2 após o assassinato, quando o local já estava cercado.

Cerca de 40 minutos depois da execução, Alfredo apareceu com o celular na mão esquerda e se aproximou do local do crime, começando a tirar várias fotos. Embora tenha permanecido nas proximidades do local do crime, Alfredo em nenhum momento se aproximou dos policiais que estavam atuando no caso.

A corregedoria da Polícia Civil abriu um inquérito para apurar a razão de ele estar no aeroporto, utilizando uma viatura oficial de maneira irregular e com a placa modificada.

Em entrevista ao Fantástico, Alfredo afirmou que se confundiu de terminal, mas tentou embarcar no voo e não conseguiu remarcar a passagem. Ele revelou que havia planejado ir a Porto Alegre para um curso desde setembro. Ficou no aeroporto até as 20h, tentando adquirir uma nova passagem, mas abandonou a viagem devido ao alto custo.

Em relação às fotos tiradas no local do crime, Alfredo justificou que foi por interesse profissional, uma vez que é policial. Ele admitiu que cometeu um erro ao utilizar o carro para fins pessoais e garantiu que não conhece Vinícius nem tem qualquer ligação com o crime. Após essa conversa, ele enviou uma mensagem informando que não autorizava a divulgação dos áudios da ligação telefônica.

Alfredo é policial do DEIC, o Departamento Estadual de Investigações Criminais, e a viatura também pertence a esse departamento. Vale ressaltar que é o mesmo DEIC onde trabalham policiais mencionados por Vinícius Gritzbach. Vinícius Gritzbach estava sendo investigado por lavagem de dinheiro para o PCC e, no fim do ano passado, começou a negociar um acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo. 

Durante as negociações, ele revelou os nomes de integrantes da facção para quem realizava a lavagem e denunciou policiais civis envolvidos em corrupção.

Ele apontou agentes do DEIC, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e também do 24º Distrito Policial de São Paulo. Parte dessas denúncias foi formalizada na Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo no final de outubro. A equipe da reportagem do programa apurou que o nome de Alfredo Alexander Raspa da Silva não foi mencionado na delação de Vinícius.

Relembre o caso

Gritzbach estaria jurado de morte pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), após suposto envolvimento no assassinato de dois membros da facção, incluindo Anselmo Becheli Fausta Nova, conhecido como "Cara Preta", um dos maiores traficantes de drogas de São Paulo.

Segundo as investigações conduzidas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo, Gritzbach teria fretado um helicóptero para transportar R$ 1,5 milhão em espécie, utilizado como entrada para a compra de um imóvel de luxo no litoral norte paulista.

O bem teria sido adquirido em nome de um líder do PCC, como forma de camuflar a verdadeira propriedade. Para desviar a atenção das autoridades, ele teria registrado as mansões em Bertioga nos nomes de familiares como "laranjas".

A Promotoria de São Paulo concluiu que Gritzbach cometeu crime de lavagem de dinheiro, utilizando transferências bancárias e imóveis para “limpar” recursos do tráfico de drogas e armas do PCC.

Em um dos casos, o empresário teria negociado uma casa de R$ 2,5 milhões, embora o valor real da transação tenha sido de R$ 6 milhões, conforme indicado em conversas interceptadas. O assassinato de Gritzbach, ocorrido na área de desembarque do Terminal 2 do aeroporto, teria sido motivado por vingança, após suspeitas de que o empresário estivesse envolvido na morte de outros membros do PCC.

Gritzbach foi executado com 10 tiros ao deixar o saguão do Terminal 2 do Aeroporto Internacional de Guarulhos na última sexta-feira (8). Outras três pessoas foram atingidas durante o ataque; uma delas, o motorista de aplicativo Celso Araújo Sampaio de Novais, de 41 anos, não resistiu aos ferimentos e faleceu.

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