SÃO PAULO

“Para, vocês vão matar”, gritou filha da idosa atacada por PMs de Tarcísio

Ana Paula Sena detalhou agressão de PMs; imagem da câmera corporal registra começo da invasão à casa

Momento que policiais entram na casa.Créditos: Reprodução de vídeo
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A motorista Ana Paula Sena, de 42 anos, filha da idosa de 63 anos agredida por policiais militares em Barueri, na Grande São Paulo, relatou à imprensa que os agentes invadiram a residência da família e começaram a agredir todos os moradores. 

"Eu falava 'para, vocês vão matar as pessoas'. Aí nisso vem um cassetete bem na minha boca. Comecei a sentir dor e pensei que iam bater mais na minha cara. Eu saí da porta e eles me empurraram para entrar", afirmou ao UOL.

Ela mencionou que a agressão não foi generalizada entre os policiais, sendo praticada por uma parte deles. Em resposta, a Secretaria de Segurança de São Paulo (SSP) informou que 12 PMs foram afastados e estão sendo investigados pela Corregedoria, com a suspensão de suas atividades operacionais.

"Nisso que eu saio, aí eles tinham o caminho aberto para entrar. Todas as viaturas que chegavam iam batendo em todo mundo", disse.

Câmera corporal registra início da agressão

A situação teve início com a tentativa de apreensão da moto do sobrinho de Ana Paula. Por volta das 21h20 de quarta-feira (4), o estudante Mateus Higino, de 18 anos, estava com sua moto estacionada na calçada de casa, quando uma viatura da PM parou e os policiais começaram a questionar a origem do veículo. A câmera corporal de um policial militar registrou o começo da abordagem policial.

Matheus inicialmente informou não estar com o documento de identificação. Em seguida, o jovem pediu para que a moto não fosse apreendida. "A moto estava parada e eu estava ajustando ela. A moto é minha, eu ia acertar o documento, comprei há um mês. Eles me enquadraram e disseram que a moto ficaria apreendida por causa da documentação em atraso. Mas eu não estava em circulação. Eu falei que tudo bem levar, mas que iria tirar os acessórios da moto, eu estava no meu direito de tirar os pertences", informou.

De acordo com Mateus, a discussão teve início quando os policiais impediram que ele retirasse os acessórios da moto. "Mas não houve resistência após isso, a moto já estava apreendida", afirmou.  

Sem a autorização da família, os policiais invadiram a garagem da casa e começaram a agredir os familiares. "Alguns estavam fora de controle, entrando e batendo", relatou Ana Paula. O irmão de Ana Paula, o empresário Juarez Higino Lima Júnior, de 39 anos, e a mãe deles, Lenilda Messias, de 63 anos, também foram agredidos.

“A minha mãe desceu quando viu toda bagunça. Ela tenta acalmar os policiais a todo mundo, está gravado. Ela fica dizendo 'que isso, gente, estão batendo no meu filho'. Ela tenta segurar o cassetete para eles não baterem no meu irmão, aí eles gritam e batem na cabeça dela e começam a chutar a minha mãe”, completou a filha.

Ainda na imagem, vê-se a chegada de reforços policiais durante a confusão. O PM com a câmera corporal perguntou a um tenente se seria possível levar o jovem à delegacia por desacato, já que ele havia xingado os policiais.

O oficial afirmou que "dava" e foi até a garagem, onde a família tentou fechar o portão. Os policiais conseguiram abrir o portão, o que gerou gritaria. A sequência dos acontecimentos não é mostrada pela câmera corporal.

O que dizem PMs e SSP

Em depoimento, os policiais explicaram a entrada na casa sem autorização e o uso da força na "caracterização do estado flagrancial de Matheus, que, em tese, teria cometido o crime de desacato contra os policiais". A Secretaria da Segurança Pública divulgou nesta quinta-feira (5) que a Polícia Civil está analisando as imagens da ocorrência e investigando "todas as circunstâncias dos fatos". 

“O caso foi encaminhado à Corregedoria da Polícia Militar para apuração e as devidas medidas cabíveis", completou a nota. Com o aumento da letalidade policial, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou nesta quarta-feira (4) que o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), segue no cargo. 

Em Brasília, ao ser questionado sobre a possibilidade de demitir Derrite e sobre o desempenho do secretário, Tarcísio foi direto: "Olha os números que você vai ver que está [fazendo um bom trabalho]". Diante das insistências, ele apenas repetiu: "Olha as estatísticas", sem revelar quais números sustentavam sua resposta.

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