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CENAS FORTES: Mães de Bauru denunciam PM de Tarcísio por "execuções"

Houve mais de doze casos de mortes duvidosas em cerca de um ano, dizem

Descontrole.Ao lado do caixão, PM soca o rosto do irmão do morto; viatura da PM faz ronda diante da casa onde vivem as famílias dos mortos.Créditos: Reprodução
Escrito en BRASIL el

De Bauru -- Revoltadas com o assassinato dos próprios filhos em circunstâncias duvidosas, Nilceia Alves Rodrigues e Maria Aparecida Urbano Soares dos Santos decidiram organizar em Bauru o movimento Vozes da Periferia, para denunciar a Polícia Militar comandada pelo governador Tarcísio de Freitas por suspeita de práticas de extermínio.

Desde que os filhos foram mortos, em 17 de outubro passado, elas já descobriram outros seis casos parecidos, atribuídos a PMs do 13o. Batalhão de Operações Especiais de Polícia, conhecido como BAEP. Outras quatro mães se apresentaram mais ainda não foram incluídas no cadastro, totalizando 12 mortes.

O caso ganhou dimensão nacional depois que a Polícia Militar compareceu ao velório de Luis e Guilherme, de 21 e 18 anos de idade. Alegando desacato, PMs pediram reforço, invadiram o velório, usaram violência contra a mãe de Guilherme e prenderam o filho mais velho dela, Fábio, depois de socá-lo três vezes no rosto.

O motivo de a PM ter ido ao velório é desconhecido.

As cenas aparecem na reportagem exclusiva da Fórum abaixo:

Marcas de tortura

Nilceia, mãe de Guilherme, duvida da versão oficial, registrada em Boletim de Ocorrência: que os dois vizinhos estavam armados, atiraram contra a PM e morreram em confronto. Com ambos teriam sido encontradas armas, um rádio de comunicação e uma mochila com 50 quilos de maconha.

Na versão de Nilceia, ela viu o filho sair de casa de bermuda e sem camisa. Maria Aparecida, mãe de Luís, diz que o filho era usuário de maconha e cocaína, mas se fosse o "grande traficante" que aparece no registro oficial não andaria com uma sandália de borracha amarrada com arame.

Depois de comparecer à delegacia onde o filho mais velho foi detido, Nilceia disse que conseguiu passar meia hora ao lado do corpo do filho morto. Aproveitou a oportunidade e, com ajuda da filha mais nova, fotografou hematomas. Segundo a mãe, Guilherme estava com o maxilar fora do lugar. Ainda na versão dela, o tiro que matou o jovem de 18 anos foi dado à queima roupa.

Tudo isso é incompatível com o registro oficial de um confronto armado.

Maria Aparecida diz que seu filho Luis também foi espancado. As duas sustentam que os corpos foram arrastados para desfazer a cena do crime e dificultar futuras investigações.

As criadoras do Vozes da periferia já colheram depoimentos de duas outras mães que narraram episódios semelhantes: espancamento, morte, alteração da cena do crime e BOs narrando troca de tiros com traficantes.

Perseguição policial

Na noite do enterro, depois da ação violenta da PM no velório, familiares interromperam o tráfego em uma avenida das proximidades do Jardim Vitória, na periferia de Bauru, para protestar. Foram reprimidos com bombas pela PM. 

Um adolescente encontrou uma das bombas que não explodiu e a levou para casa. No domingo, 20, o menino de 13 anos perdeu um dedo quando a granada anti-distúrbios explodiu.

As mães estão sendo representadas pelo advogado Ariel de Castro Alves, ex-secretário nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Elas narram vários episódios em que familiares teriam sido intimidados pela polícia depois das mortes e dos protestos.

Nilceia gravou a destruição de uma faixa que foi colocada em um portão diante do terreno onde os corpos foram encontrados, onde fica uma estação do Departamento de Água e Esgoto de Bauru (DAE).

Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, um IPM foi aberto para apurar o caso.

Quatro policiais teriam sido afastados preventivamente.

Nilceia depôs à Corregedoria da Polícia Militar, narrando sua versão dos fatos.

As duas mães vão promover uma nova cerimônia no dia 19 de janeiro de 2025: plantio de Ipê em memória de outro jovem morto pela PM em Bauru, Thayllãn Henrique Barbosa da Silva.

Nilceia sustenta que a PM impediu que seu filho ferido fosse atendido pelo SAMU, uma vez que poderia falar se sobrevivesse ao suposto "tiroteio". O mesmo teria acontecido no caso de Thayllãn, morto pela PM em 15 de maio de 2024.

Ouça os depoimentos de Nilceia e Maria Aparecida no vídeo acima.

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