Um caminhão que carregava milhares de quilos de um pesticida banido em diversos países caiu no rio Tocantins no último domingo (22/12), com a tragédia da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que unia o Maranhão ao Tocantins, no trecho entre as cidades de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO).
A ponte de 533 metros de comprimento cedeu no domingo e levou à queda de dez veículos no rio Tocantins, com pelo menos seis mortes confirmadas e 11 desaparecidas, de acordo com informações desta quarta-feira (25/12).
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Três dos veículos vítimas da queda eram caminhões carregados de tóxicos usados em atividades agrícolas, de acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), que iniciou, a partir de então, a coleta de amostras de água do rio para análise.
Foram 76 toneladas de ácido sulfúrico e 25,2 mil litros de outros pesticidas; entre eles, conforme noticia o Brasil de Fato, está o 2,4-D (ácido 2,4 diclorofenoxiacético), utilizado extensivamente para o controle de pestes em lavouras de soja, milho, trigo e algodão.
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Um herbicida de natureza hormonal, que afeta o crescimento das plantas indesejadas, foi desenvolvido na década de 1940 e, desde então, definido pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) como um carcinogênico do Grupo 2B.
Apesar de ser aprovado para uso no Brasil, o 2,4-D é banido em países da Europa, na Austrália, em Moçambique e no Vietnã.
Ele chegou a ser usado, além disso, durante a Guerra do Vietnã (1959-1975) como arma química, para causar o desfolhamento de florestas e impedir que combatentes vietnamitas tomassem abrigo em esconderijos.
De acordo com as análises técnicas da ANA, o ácido sulfúrico não deve afetar o corpo d'água nem contaminá-lo, o que prejudicaria o abastecimento de água na região, que provém do rio. Já o supervisor de Emergência Ambiental da Secretaria do Estado de Meio Ambiente do Maranhão (SEMA), Caco Graça, disse, em entrevista à TV Mirante, que os caminhões foram encontrados com seus tanques intactos, sem vazamento identificado do material do interior.
O único risco de contaminação, embora pequeno, é esperado para o momento em que o material for removido. Apesar disso, a SEMA continua a fazer o monitoramento da água e a acessar os riscos de contaminação a fim de identificar possíveis vazamentos.
Os pesticidas despejados ao rio, caso houvesse vazamento, poderiam permanecer ali por anos, deixando um rastro na fauna aquática e na cadeia trófica da região, incluindo na dinâmica da cadeia alimentar — com os riscos à saúde humana estendendo-se às atividades de pesca.
Os compostos podem permanecer ativos por vários anos, apontam especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato, e podem afetar o rio a até 50 km de profundidade — o Rio Tocantins, o segundo maior do Brasil (localizado em território totalmente brasileiro), tem aproximadamente 2.400 km de extensão e, no local do acidente, uma profundidade de cerca de 50 metros.
Os marcadores de contaminação não são, além disso, totalmente confiáveis, já que os baixos níveis de contaminação atuais não refletem os impactos de longo prazo dos tóxicos (mais de 12 mil quilos de princípios ativos potencialmente danosos à saúde), nem seu efeito sobre os peixes.
O potencial carcinogênico, por exemplo, pode vir a se manifestar como efeito colateral da tragédia daqui a vários anos, e não se sabe ao certo em que medida.