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Brasileiros têm mais medo que confiança na polícia, diz Datafolha

Maiores taxas de confiança são observadas entre os homens (52%), brancos (53%) e eleitores de direita (58%)

Polícia Militar de São Paulo.Créditos: PMSP/Divulgação
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Uma pesquisa do Datafolha divulgada neste domingo (21) mostra que 51% dos brasileiros com 16 anos ou mais têm mais medo do que confiança na polícia, enquanto 46% afirmaram o oposto. O estudo entrevistou 2.002 pessoas em 113 municípios nos dias 12 e 13 de dezembro, com margem de erro de dois pontos percentuais e nível de confiança de 95%.

As maiores taxas de confiança na polícia em relação ao medo são observadas entre os homens (52%, frente a 40% das mulheres), moradores do Sul do país (57%), brancos (53%, enquanto negros registram 38%) e eleitores de Bolsonaro no segundo turno de 2022 (58%, comparados aos 38% entre os eleitores de Lula). As margens de erro nesses segmentos oscilam entre três e seis pontos percentuais.

Ainda de acordo com o levantamento, 63% da população está ciente dos casos de violência policial em São Paulo. Desses, 34% se dizem bem informados, 25% mais ou menos informados e 4% mal informados. Por outro lado, 37% desconhecem o assunto, número que aumenta para 56% entre pessoas de 16 a 24 anos. Entre os que têm conhecimento sobre os episódios, 55% relataram maior medo do que confiança na polícia, enquanto 42% demonstraram mais confiança do que temor.

Em 5 anos, a PM paulista causou 3,8 mil mortes, mas Ministério Público só ofereceu 269 denúncias. Nas últimas semanas, a violência policial em São Paulo começou a ser amplamente noticiada na grande imprensa após um policial jogar o motoboy Marcelo, de 25 anos, da ponte para um rio contaminado com esgoto em Cidade Ademar, bairro da Zona Sul da capital paulista.

Outro caso foi de um PM à paisana que executou um jovem negro com inúmeros tiros pelas costas em uma loja de conveniência Oxxo, também na Zona Sul. O motivo: o jovem havia furtado quatro pacotes de sabão.

Em maio deste ano, a Fórum entrevistou Aline Passos, advogada e doutora em sociologia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), e Acácio Augusto, cientista político e coordenador do Lasintec (Laboratório de Análise em Segurança Internacional e Tecnologias de Monitoramento) da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp).

Ambos os pesquisadores apontaram que a raiz da violência da corporação é política e está apegada às próprias estruturas das polícias.

“Há séculos, policiais são absolvidos por legítima defesa, mesmo com provas irrefutáveis, como tiros na nuca e outras evidências”, disse Aline em um trecho da entrevista.

Acácio Augusto vai na mesma linha de Aline sobre a possibilidade de diminuir a letalidade policial: sugere que nossas políticas de segurança pública são tão desastrosas e violentas que, se analisadas sob os mesmos critérios de outras áreas como saúde e educação, naturalmente haveria um desfinanciamento por parte do Estado. O maior problema, segundo ele, está na organização da polícia paulista.

“A grande questão é a própria estrutura da polícia, a organização, a forma militar como ela está organizada e com o agravante dessa tentativa de manter o controle das câmeras na mão dos comandos da PM, que é isso que o Derrite e o Tarcísio estão fazendo agora, só reforça que o grande problema é como a polícia está organizada, não só na sua forma militar, mas, sobretudo, nesse momento, comandada por um ex-capitão da PM, que foi integrante do 14º Batalhão de Osasco, que é, sabidamente, o batalhão mais matador de São Paulo"

Leia a entrevista completa.

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