Parte do público que esteve num ato de campanha de Ricardo Nunes (MDB), prefeito paulistano e candidato à reeleição, realizado quarta-feira (2) à noite era formado por funcionários de organizações sociais contratadas pela prefeitura que denunciam terem sido intimidados pelos superiores a comparecer sob pena de punição. O evento, que contou com a participação de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, aconteceu na Liberdade, região central da cidade.
"Encontro da Saúde com Ricardo Nunes" fez parte da maratona eleitoral praticada pelo atual prefeito no esforço para se reeleger. Considerado um sucesso de público pela equipe da campanha do candidato bolsonarista, o acesso ao local onde aconteceu o evento foi concorrido, com filas gigantes e muita gente sem conseguir entrar.
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A situação não foi motivo de comemoração e nem confortável para a parcela de "convidados" que ficou para do lado de fora do teatro. Muitas pessoas não conseguiram esconder a apreensão e a frustração de não terem conseguido entrar.
"Cheguei cedo, mas mesmo assim não consegui [ingressar no teatro]", explicou Maria – nome fictício escolhido para preservar a identidade da profissional que teme sofrer represálias na OSS (Organização Social de Saúde) para a qual trabalha. "Não publique o meu nome porque corro o risco de perder o meu emprego", pediu a mulher ainda na porta do local com o ingresso impresso em mãos.
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"Minha chefe ligou ontem [terça-feira, dia 1º de outubro] dizendo que a nossa presença era obrigatória e, em caso de falta, poderíamos sofrer penalizações. Todos os funcionários foram convocados", afirmou Maria ao contar que o tom foi de intimidação. "Mandaram o endereço dizendo que se tratava de um evento chamado 'Encontro da Saúde', que pensamos se tratar de alguma palestra ou reunião profissional", completou ela.
Com receio de ser punida, Maria revelou ter permanecido na calçada do teatro por mais de uma hora esperando para se encontrar com a chefe e mostrar que havia tentado entrar e, dessa maneira assim, evitar uma eventual punição.
"Foi uma surpresa quando chegamos – eu e uma colega de trabalho – e nos deparamos com faixas e cartazes, além da distribuição de santinhos, bandeiras e adesivos da campanha do prefeito", disse ela. "Venho de uma cidade do interior do nordeste e achava que isso só acontecesse lá. Nunca imaginei ver isso em São Paulo", acrescentou.
A reportagem da Fórum conversou com outros participantes após o término do evento e apurou que muitos eram mesmo funcionários de OSSs. "Fui convidada, sim, pelo meu chefe", admitiu outra profissional de saúde, que estava com um grupo de cinco colegas de trabalho e também pediu anonimato. Antes, a mulher confirmou prestar serviço num hospital municipal da zona sul da capital paulista.
As conversas que aconteciam no meio da rua, no entanto, foram interrompidas por um homem não identificado que se aproximou querendo saber o motivo para tantas perguntas. "Não sei de evento nenhum", respondeu ele ao ser questionado se sabia da convocação para que trabalhadores fossem ao evento de campanha do prefeito. "Estamos aqui confraternizando e você está nos atrapalhando", prosseguiu em tom de ameaça.
Foi pedido à comunicação campanha do MDB um posicionamento sobre as denúncias, mas até a publicação desta reportagem a assessoria de imprensa do candidato não havia se manifestado. O espaço segue aberto para uma eventual nota de esclarecimento.
Fiador de Nunes
No palco do teatro, o governador de São Paulo foi o último a discursar em favor do seu protegido bolsonarista. "Hoje é o dia de pedir a vocês esse esforço nesta reta final. Ricardo está indo muito bem e merece ter esse voto de confiança", disse o governador Tarcísio ao pedir votos a Nunes. "Convençam aqueles [eleitores] indecisos, aquelas pessoas que ainda não sabem [em quem votar para prefeito]", finalizou o principal fiador da campanha do atual prefeito.
Na falta do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), padrinho político de Nunes e que tem tido participação discreta nas eleições de São Paulo, o governador bolsonarista mergulhou de cabeça da campanha para reeleger o atual prefeito. Só na quarta-feira, Tarcísio participou de três agendas eleitorais seguidas ao lado do candidato do MDB. Eles atravessaram cidade passando pelos bairros de Santana, Liberdade e terminando em Santo Amaro, após às 23h30.