Um novo caso de racismo e violência política veio à tona com as ameaças sofridas pela deputada estadual Bruna Rodrigues (PCdoB-RS) e sua filha. Em um e-mail enviado na noite de segunda-feira (14), a parlamentar foi alvo de um discurso de ódio e supremacismo branco, com ameaças de morte e estupro.
O suposto autor do e-mail, identificado como Anderson Rocha Ludovico de Menezes, descreveu-se como "um homem branco, heterossexual e cidadão de bem". A deputada afirmou que o remetente também teria assinado ameaças a outros parlamentares, incluindo a deputada federal Daiana Santos (RS), as deputadas estaduais Thainara Farias (SP) e Rosa Amorim (PE), além da vereadora Bia Caminha, de Belém.
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A parlamentar registrou um boletim de ocorrência. Ela e a equipe jurídica solicitaram à Mesa Diretora da Casa que intervenha no caso. “Os colegas parlamentares foram muito solícitos e reconheceram que há um crime contra a atividade parlamentar. A Assembleia, inclusive, via presidência da Casa, vai notificar a Secretaria Estadual de Segurança Pública para convocar uma audiência ainda hoje com o secretário Sandro Caron”, declarou Bruna.
“Tais violências configuram uma verdadeira ameaça não somente à integridade física e psicológica minha de de minha filha Kamilly, mas também ao meu mandato parlamentar, à soberania da Assembleia Legislativa e à democracia como um todo”, disse em um vídeo gravado em suas redes sociais.
A deputada enfatizou que “é lamentável que alguém que se intitula 'cidadão de bem' ameace a família que eles mesmos tanto dizem defender! Não me silenciarei diante de nenhuma ameaça”, afirmou. “Existem indícios de que tais violências e ameaças políticas racistas, misóginas e lgbtfóbicas estejam articuladas em cadeia nacional”.
A parlamentar optou por não divulgar a íntegra da mensagem, considerando que a natureza cruel de seu conteúdo não justifica sua exposição pública. No entanto, reafirmou seu compromisso com a política, destacando que as intimidações não a silenciarão.
"Tenho certeza de que estou no caminho certo, e estar no caminho certo incomoda. Incomoda, principalmente, aqueles que não acreditam que mulheres como eu devam ocupar espaços como este – espaços de poder e decisão – e que, acima de tudo, representam aquelas e aqueles que sempre foram silenciados. Não vão me silenciar”, afirmou.
Parlamentares manifestaram apoio à Bruna em sua rede social após a publicação da denúncia.
“Estamos juntas, Bruna e Camilly! Esses ataques covardes não vão nos calar! Seguimos juntas na luta contra a violência política de gênero. Que os responsáveis por esse ataque criminoso sejam responsabilizados”, declarou a deputada federal Daiana Santos (PCdoB).
“Estamos lado a lado, Bruna. Não vão nos calar! Conta comigo sempre”, afirmou o deputado estadual Matheus Gomes (PSol). “Minha solidariedade, minha amiga! Estamos juntas como sempre”, disse Laura Sito (PT).
“Toda a minha solidariedade a você e tua filha, Bruna. É revoltante que ataques tão covardes e violentos sejam dirigidos a quem dedica sua vida à luta por justiça e igualdade, mais revoltante que atinjam as nossas famílias. Não podemos aceitar que o ódio tente calar vozes que lutam. Estamos juntas. Conte com nosso apoio!”, escreveu a candidata à prefeitura de Porto Alegre, Maria do Rosário (PT).
Em 2021, a vereadora Bruna Rodrigues e seus colegas Laura Sito (PT), Daiana Santos (PCdoB), Karen Santos e Matheus Gomes, que compunham a histórica primeira bancada negra da Câmara Municipal de Porto Alegre, sofreram ameaças de morte e ofensas racistas.
Violência política contra mulheres
A violência política pelas redes sociais atinge em sua maioria as mulheres candidatas. Um estudo revelou que elas receberam mais do dobro de insultos e quase cinco vezes mais ataques em comparação aos homens. Os ataques, que vão da misoginia à xenofobia, reforçam estereótipos de gênero sobre aparência, idade e capacidade.
Enquanto os homens receberam 417 insultos e 105 ataques, mulheres já foram alvo de 733 insultos e 462 ataques – 673 insultos e ataques a mais em comparação aos homens em cidades do interior do Brasil, o que representa um acréscimo de 128,9% no cenário de violência política de gênero.
Os dados são do Instituto MonitorA, observatório desenvolvido pelo Instituto AzMina, InternetLab, Núcleo Jornalismo e Laboratório de Humanidades Digitais da Universidade Federal da Bahia.
Mais de 5 mil comentários em debates políticos transmitidos online contra 37 candidatas em 25 cidades brasileiras foram identificados. A pesquisa, realizada entre agosto e setembro de 2024, analisou transmissões de YouTube em diferentes regiões do país.
O Sudeste concentrou a maior parte dos comentários (48,3%), seguido por Nordeste (28,94%), Sul (20,07%) e Centro-Oeste (2,69%). Essa distribuição, no entanto, não reflete diretamente a intensidade da violência verbal, já que um mesmo usuário pode realizar múltiplos ataques em um único comentário.
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