INDEPENDÊNCIA OU MORTE?

7 de setembro: saiba o que é mito sobre o Dia da Independência

O império da época construiu uma imagem heroica do momento, a fim de criar uma identidade brasileira à altura das repúblicas vizinhas

Dom Pedro I não estava à cavalo e sequer deu o grito nas margens do Rio Ipiranga.Créditos: Reprodução
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A Independência do Brasil não foi esse o fato heroico que muitas pessoas acreditam e que se perpetua até hoje nas aulas de história, sendo objeto de defesa da “pátria amada” pelo movimento conservador do país. 

O dia 7 de setembro se tornou palco de uma simbologia criada para exemplificar o sentimento de “nação brasileira” e a defesa de pautas relacionadas ao conservadorismo e à direita. A ligação entre bolsonarismo, suposto patriotismo e militarização propagou esse discurso com ainda mais força

Como uma figura que exala bravura, montado em seu cavalo a fim de “libertar o Brasil das amarras da exploração de Portugal”, Dom Pedro I gritou às margens do Rio Ipiranga: “independência ou morte!”.  Ao menos é assim que muitas escolas ensinam como foi a proclamação da Independência do Brasil. 

A história com um personagem heroico contribui para a criação de uma “identidade brasileira”, reforçada pela reprodução artística do momento, através do quadro “O Grito do Ipiranga”, de Pedro Américo. 

"O Grito do Ipiranga", obra de Pedro Américo

No entanto, a realidade pode ser bem diferente dessa versão da Independência do Brasil – a teatralidade presente na situação foi uma atribuição artística adicionada por Américo, ao realizar a pintura, a fim de construir uma concepção de nação brasileira “elevada” e que se comparasse às repúblicas vizinhas. 

Dom Pedro I não costumava montar em cavalos, como retratado no quadro. Na realidade, ele estava sendo transportado por uma mula, mas o fato acabaria com a glamourização do momento. 

De acordo com historiadores, Dom Pedro I estava com um mal-estar antes de declarar a Independência, devido a algum alimento que ingeriu no litoral paulista. O uniforme que ele utilizava também era bem mais simples do que o que fora reproduzido, se assemelhando às vestimentas dos tropeiros da época.

Vestimentas comuns dos tropeiros gaúchos e paulistas da época

O grito da independência sequer foi feito, de fato, às margens do Rio Ipiranga – na realidade, o ex-imperador do Brasil estava no alto de uma colina, próxima ao riacho. Quanto à comitiva presente, que parece bem populosa no quadro, estima-se que não passava de 14 pessoas. 

“Pedro Américo avisou, à época, que a cena real da proclamação da independência não era assim, mas julgou necessário incluir o rio porque ficava mais bonito e era um símbolo relevante”, diz Jorge Pimentel Cintra, engenheiro especializado em cartografia histórica da Escola Politécnica e do Museu Paulista. 

A própria data foi escolhida, uma vez que havia a possibilidade da Independência do Brasil acontecer nos dias 7 de setembro, 12 de outubro (dia da aclamação de Dom Pedro I) ou 1º de dezembro (dia da coroação de Dom Pedro I). Por fim, o dia 7 de setembro foi o escolhido no reinado de Dom Pedro II, para valorizar o poder monárquico.