FALTA DE PROFESSORES

Estudantes da USP aprovam greve geral em unanimidade

Mais de mil alunos estiveram presentes na mobilização por contratação de professores e permanência estudantil

Cerca de mil estudantes aprovaram greve geral na USP por unanimidade.Créditos: Arquivo Pessoal/Camila Mai
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Na noite da última terça-feira (19), os estudantes da Universidade de São Paulo (USP) deflagraram a greve geral em toda a universidade. Mais de mil presentes na assembleia geral estudantil aprovaram por unanimidade a mobilização pela contratação de professores e avanços nas políticas de permanência. 

A reunião na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) contou com a presença de centros acadêmicos, organizações estudantis e o Diretório Central dos Estudantes da universidade, o DCE Livre da USP. Membros da Associação de Docentes da USP (Adusp) e o Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) se somaram à luta estudantil.

Alguns dos institutos e/ou departamentos que já aderiram à greve são: FFLCH (Letras, Geografia, História e Filosofia);Escola de Artes, Ciências e Humanidades(11 cursos); Instituto de Relações Internacionais (IRI); Faculdade de Educação (FE); Instituto de Oceanografia (IO); Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU); Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA); Ciências Moleculares; Biblioteconomia; e Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR/ECA).

Os antecedentes da greve

Na última década, o corpo estudantil tem reivindicado a contratação de professores em decorrência da grave falta de docentes que perpassa a Universidade de São Paulo em toda a sua extensão. Entre janeiro de 2014 e março de 2022, foram perdidos 818 professores, com destaque para os departamentos de Letras (FFLCH), Artes Plásticas (ECA) e Obstetrícia (EACH).

No primeiro Conselho Universitário (Co) da USP em 2023, os alunos da Obstetrícia fizeram uma intervenção devido à falta de docentes responsáveis para acompanhar os estágios obrigatórios. O curso contava com 12 docentes para supervisão direta do eixo, enquanto seria necessário o dobro para a pela formação acadêmica. 

Em junho de 2023, a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH, o campus da USP-Leste) emplacou uma paralisação e piquete – impedimento de entrada nos prédios – no campus. De acordo com o DCE Livre da USP, "a paralisação foi encaminhada após a reitoria ignorar as inúmeras mobilizações dos estudantes". Este foi o primeiro passo para a greve deflagrada em toda a USP.

No mês seguinte, em agosto, o departamento de Artes Plásticas (CAP) da Escola de Comunicação e Artes (ECA) deixou de oferecer 11 das 33 disciplinas do semestre pela não renovação dos contratos de três professores temporários e a falta de docentes disponíveis para assumir as vagas.  

"A falta de contratação de professores num curso como o de Artes Visuais da USP limita as oportunidades de desenvolvimento de novos talentos, como ainda compromete o prestígio da instituição e sua capacidade de atrair estudantes, parcerias e projetos relevantes, comprometendo a manutenção de um corpo docente qualificado e estável, vital para a qualidade do ensino na Universidade e desde seu início conectado à comunidade cultural e artística, desempenhando papel fundamental na formação de profissionais ligados à área."

- Carta-aberta do CAP

Na última segunda-feira (18), durante a concentração de estudantes para uma assembleia nos prédios da Letras, o Serviço de Comunicação Social da FFLCH anunciou, por e-mail, a suspensão das aulas diante da "iminente oportunidade de danos ao patrimônio público" e o envio da guarda universitária – que expulsou os estudantes do local.

Em resposta, o departamento de Letras –  que calculou a necessidade de contratação de 114 professores para suprir a demanda de aulas – realizou a assembleia que definiu a adesão do departamento à greve.

O que a greve reivindica? 

"É muito notório o estado de calamidade [na universidade] decorrente da falta de professores, que além de atingir a formação acadêmica no tempo ideal e o aumento da sobrecarga de trabalho dos professores, toca em outro ponto muito importante, a permanência estudantil", expressa Rosa Baptista, diretora do DCE Livre da USP e do Centro Acadêmico Lupe Cotrim (CALC) pelo Coletivo Juntos.

Rosa Baptista discursa pelo DCE Livre da USP [Imagem: Arquivo Pessoal/Camila Mai]

A greve geral dos estudantes tem como objetivo a reposição de professores – denominados como claros efetivos – e melhores políticas de permanência estudantil na USP, que foi eleita a 85ª melhor universidade do mundo e a melhor da América Latina, ambos os rankings do QS World. 

"O objetivo geral da greve é a contratação de professores, sujeita às demandas individuais de cada curso, que tenha um mapeamento da perda de professores de [março] de 2022 para frente e que não tenha limite do oferecimento de bolsas de auxílio PAPFE", explicou Rosa. 

O Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (PAPFE) foi reformulado em 2023 para a unificação de auxílios, como auxílio moradia, auxílio alimentação, entre outros. Embora a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP), sob a direção de Ana Lucia Duarte Lanna, anunciou que seriam concedidos auxílios à 15 mil alunos, a falta de transparência nos critérios e a lista de espera demorada garantiram pouco do prometido.

No início de setembro, a reitoria da gestão de Carlos Carlotti Jr-Maria Arminda anunciou o adiantamento da contratação de 18 docentes para a ECA e 35 para a FFLCH, após sua participação no programa Roda Viva, da TV Cultura. Em março de 2023, a USP publicou no Diário Oficial do Estado de São Paulo que fechou o ano de 2022 com R$ 5,7 bilhões em caixa.

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