DESRESPEITO

Kabengele Munanga recebe título de professor emérito da USP e vive momento racista

A crítica de Kabengele Munanga, baseada em sua vivência, foi rebatida agressivamente pela vice-reitora da universidade

Kabengele Munanga é um professor e pesquisador respeitado de origem brasileira-congolesa e ativista pelas causas raciais.Créditos: Reprodução/Redes Sociais
Escrito en BRASIL el

O professor Kabengele Munanga foi declarado emérito pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Estadual de São Paulo (FLCH-USP), numa cerimônia realizada em 2 de junho. 

Kabengele é reconhecido por sua excepcional luta contra o racismo como professor e pesquisador. De origem brasileira-congolesa, o antropólogo sempre defendeu as políticas afirmativas na academia e proporcionou a implementação de uma educação antirracista através de sua resistência, sendo por décadas o único professor negro da instituição e trazendo voz às causas de pessoas afro-brasileiras. 

Ajude a financiar o documentário da Fórum Filmes sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. Clique em https://benfeitoria.com/ato18 e escolha o valor que puder ou faça uma doação pela nossa chave: pix@revistaforum.com.br.

O professor realizou uma fala na celebração sobre a posição da USP: segundo ele, a universidade sofreu um retrocesso ao deixar de se preocupar com políticas públicas raciais de inclusão e adotar um discurso meritocrático, flertando com o “darwinismo social”, na última década.

O título honorário de professor emérito é direcionado a profissionais que tenham se aposentado na instituição responsável pela designação da qualificação e tenham realizado um trabalho marcante em sua carreira. 

Vice-reitora da USP rebate crítica

Diante disso, a vice-reitora Maria Arminda do Nascimento Arruda rebateu a crítica do professor, que vivencia a representatividade que defende, ao mencionar que, na realidade, a universidade tem feito um bom trabalho frente às políticas de combate à desigualdade social, mesmo com uma “rapidez que talvez não seja o desejável”, nas palavras dela. 

Vale ressaltar que, segundo os dados da pesquisa “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2020, apenas 37,2% das pessoas que têm acesso ao ensino superior público e particular são pretas ou pardas, mesmo essa população sendo correspondente a 56,1% do povo brasileiro, de acordo com Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) de 2021, também realizada pelo IBGE.

Parte dos docentes enxergam racismo em comportamento de vice-reitora

Parte dos presentes enxergaram uma demonstração de racismo na postura da vice-reitora. Em texto publicado no seu site oficial, a Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp) informou que a atitude de Maria Arminda do Nascimento Arruda chocou um dos docentes da instituição. 

"Ao final de seu discurso, de modo totalmente inusual, a vice-reitora, sentada a seu lado, solicitou a palavra a Martins para responder, indiretamente, às críticas de Kabengele e defender a atuação da USP. A atitude da vice-reitora chocou docente presente à cerimônia: 'É insólito que alguém polemize com o homenageado', comentou. 'Se alguém discorda, expressa isso em outra ocasião, não rouba a cena. Foi ridículo e agressivo”, reporta um trecho da matéria.