REAÇÃO

8 corpos, que seriam de garimpeiros, encontrados na Terra Yanomami; "Estamos preparados para atacar", dizem indígenas

Cadáveres foram achados pela PF após garimpeiros criminosos assassinarem indígena yanomami em seu território; governo federal intensifica ações na região

Área invadida pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, em Roraima.Créditos: Polícia Federal/Divulgação
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A Polícia Federal, durante sobrevoo em Uxiu, na Terra Indígena Yanomami, Roraima, encontrou nesta segunda-feira (1) oito corpos que, possivelmente, são de garimpeiros ilegais que atuavam no local. Os cadáveres, que segundo a corporação são de "não indígenas", estavam na mesma região onde um yanomami havia sido assassinado com tiros na cabeça por um grupo de garimpeiros criminosos no último sábado (29). 

O ataque de garimpeiros contra os indígenas foi feito durante uma cerimônia fúnebre e outros dois yanomami foram alvejados pelos disparos e estão internados. 

A principal suspeita da PF é que os 8 corpos encontrados tenham sido resultado de uma reação dos indígenas ao assassinato promovido pelos garimpeiros, já que os cadáveres foram encontrados em área de garimpo ilegal e um dos corpos estava perfurado por uma flecha. Os demais foram alvejados com disparos de arma de fogo. 

Ação e reação

Em nota conjunta sobre o ataque dos garimpeiros divulgada na segunda-feira (1) pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) e Texoli Associação Ninam Estado de Roraima (Taner), as entidades que representam os indígenas na região informaram que eles têm se organizado para contra-atacar os garimpeiros que porventura invadam seu território. 

"As lideranças indígenas da comunidade Uxiu informaram que se organizam e estão preparados para atacar qualquer barco de garimpeiros que passarem próximos às comunidades às margens do Rio Mucajaí, isso significa que pode ocorrer a qualquer momento mais uma tragédia naquela região", alertam as entidades no comunicado.

"Mesmo depois de três meses de ações [do governo federal], o povo da Terra Yanomami ainda sofre com surtos de doenças como malária, ataques e mais mortes por parte dos invasores que insistem em continuar explorando e devastando o nosso território sagrado e derramando o sangue dos nossos parentes", emendam. [Leia a íntegra da nota ao final desta matéria]

Governo federal

Já a Polícia Federal de Roraima informou, em nota, que está "apurando as circunstâncias que envolvem as oito mortes constatadas nesta segunda-feira (1/5) em Terra Indígena Yanomami". 

"Já no dia de hoje foram realizadas perícias e levantamentos no local onde os corpos foram encontrados e a Polícia Federal já articulou com as demais forças de Segurança Pública e Defesa envolvidas na Operação Libertação a retirada dos corpos do local e realização dos exames médico-legais para se descortinar as causas das mortes e coleta de outras informações que auxiliem na elucidação do ocorrido", prossegue a corporação. 

Desde janeiro desde ano o governo Lula vem encampando ações duras contra o garimpo ilegal em Roraima e expulsando criminosos da região. A presença de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami aumentou exponencialmente durante o governo Bolsonaro e, neste período, os crimes do garimpo submeteram os indígenas a assassinatos e uma forte crise humanitária, com centenas de casos de doenças e desnutrição. 

Diante dos novos ataques de garimpeiros, o governo federal informou que vai reforçar as ações de combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. Na segunda-feira (1), as ministras Marina Silva, do Meio Ambiente, e Sonia Guajajara, estiveram no local para se atualizarem da situação junto às lideranças indígenas, Polícia Federal, Ibama e Funai. 

"O Estado brasileiro não vai recuar perante a criminalidade. Vamos reforçar as equipes do IBAMA, PRF e Polícia Federal, com o suporte das Forças Armadas, para que a gente possa dar uma resposta à altura. Entre 75% e 80% dos garimpeiros já foram retirados da Terra Indígena Yanomami, conforme as informações de nossos satélites. As ações continuarão a ser intensificadas até que 100% do garimpo ilegal seja retirado!", disse Marina Silva. 

"A operação é pacificar a terra indígena Yanomami. Não queremos derramamento de sangue. Queremos utilizar dos serviços de inteligência e identificar quem está dando o suporte para essas ações criminosas", prosseguiu a ministra. 

"A situação de invasores na TI Yanomami vem de muitos anos e mesmo com todos os esforços sendo realizados pelo Gov. Federal, ainda faltam muitas ações coordenadas até a retirada de todos os invasores do território. Solicitamos reforço do MJ para investigação da PF sobre este caso", afirmou, por sua vez, a ministra Sonia Guajajara. 

Confira a íntegra da nota da Hutukara Associação Yanomami (HAY) e Texoli Associação Ninam Estado de Roraima (Taner) sobre a escalada de violência na Terra Indígena