REFORMA AGRÁRIA

Abril Vermelho: MST inicia jornada de ocupações e ruralistas reagem

Estão previstas ocupações de terras, marchas, vigílias, ações de solidariedade e acampamentos pedagógicos de formação; Frente Parlamentar da Agropecuária intensificou mensagens contra o movimento nas redes sociais

Créditos: MST/ Divulgação (Jonas Santos) - Marcha de Sem Terra na Bahia, em 2021
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Com o lema “Contra a fome e a escravidão: por Terra, Democracia e Meio Ambiente!”, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) inicia nesta segunda-feira (17) o Abril Vermelho, a Jornada Nacional de Luta pela Terra e pela Reforma Agrária. A campanha vai até o dia 20.

Em resposta antecipada, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) intensificou a ofensiva contra o MST nas redes sociais e lançou uma iniciativa chamada de Semana do Combate à Invasão no Campo no início deste mês.

De acordo com levantamento da Agência Pública, o grupo de deputados e senadores que integram a FPA pagou ao menos 20 anúncios nos dias 11 e 12 de abril no Facebook e no Instagram que trazem mensagens contrárias às ações do movimento social. As publicações tiveram mais de 1,2 milhão de impressões – que são as vezes que um anúncio aparece em uma tela – e a publicidade custou cerca de R$ 3,3 mil. 

Os anúncios foram financiados pelo Instituto Pensar Agropecuária, think tank financiada diretamente por entidades como a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp). 

Indiretamente, empresas que mantêm essas associações, também patrocinam a ofensiva. A lista inclui multinacionais como Cargill, Bunge, Nestlé, JBS e Bayer. 

Ataques coordenados contra o MST

O principal material de ataque ao MST veiculado pela FPA é um vídeo de um minuto de duração com narração profissional e trilha sonora de suspense. A peça relaciona as ações com o aumento do desemprego e uma menor oferta de comida. 

Além da ofensiva na comunicação, a cúpula da FPA também pediu, no dia 12 de abril, a abertura de investigação criminal e ações administrativas contra um dos líderes do MST, João Pedro Stedile. Os parlamentares pedem, inclusive, a prisão preventiva do dirigente nacional do movimento.  

Naquele mesmo dia, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) – uma das entidades que compõem o Instituto Pensar Agro – protocolou pedido de liminar no Supremo Tribunal Federal para tentar impedir “invasões de terra” pelo MST e outros movimentos sociais.

Além dos parlamentares da FPA e Do Instituto Pensar Agropecuária, parlamentares bolsonaristas também participaram da ofensiva contra o Abril Vermelho, entre eles Ricardo Salles (PL-SP), Júlia Zanatta (PL-SC), Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS) e Carol de Toni (PL-SC), além do líder do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri (UB-SP).

Uma das principais mensagens dos parlamentares contra o MST é o pedido de instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) contra o movimento social

Ocupações durante o Governo Lula

Desde o início do governo Lula, o MST e a Frente Nacional de Lutas Campo e Cidade (FNL) ampliaram o número de ocupações ao redor do país. Até o começo de abril, foram ao menos 16 (sete do MST e nove da FNL), número superior ao registrado pelo Incra em todo 2019, primeiro ano de Jair Bolsonaro (PL), quando o órgão contabilizou 11.

As ocupações do MST com maior repercussão neste início de 2023 ocorreram em três fazendas produtivas da empresa Suzano Papel e Celulose no sul da Bahia, nas cidades de Mucuri, Teixeira de Freitas e Caravelas. 

Segundo o MST, as ocupações foram motivadas pelo descumprimento de um acordo firmado pela empresa em 2015. O Judiciário determinou a reintegração de posse das áreas, que foi feita de forma pacífica. De acordo com o movimento social, a desocupação ocorreu após reunião de mediação promovida pelo Governo Federal em que a empresa teria reafirmado o acordo.

Luta por Reforma Agrária

A jornada do MST ocorre em todo o Brasil com ocupações de terras, marchas, vigílias, ações de solidariedade e a realização de acampamentos pedagógicos de formação, envolvendo as famílias assentadas e acampadas nas cinco regiões do país. 

Estão previstas atividades de solidariedade, doação de alimentos, plantio de árvores e a denúncia contra o modelo de produção do agronegócio.  

João Pedro Stédile gravou um vídeo para explicar sobre o Abril Vermelho. 

"Lutamos porque a terra deve ser, de fato, um direito de todas e todos, como prevê nossa Constituição Federal. A alimentação saudável, livre de agrotóxicos, e vinda da agroecologia também deve ser uma realidade no prato das e dos brasileiros", afirmou.

Massacre de Eldorado dos Carajás

MST ( J.R. Ripper) - Sepultamento de vítimas do Massacre de Eldorado dos Carajás

A data escolhida para o início das atividades da jornada do MST presta homenagem às vítimas do Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, na luta pela terra. No dia 17 de abril de 1996, 21 integrantes do MST foram assassinados. 

Além das mortes, a Polícia Militar do Estado do Pará mutilou outros 69 homens e mulheres que estavam em marcha na Rodovia PA-150, hoje Rodovia BR-155, enquanto reivindicavam a desapropriação da fazenda Macaxeira e implementação de uma vasta pauta de Reforma Agrária na região sul e sudeste do Pará. Até hoje, sobreviventes do massacre lutam por justiça e contra a impunidade.

Ferramenta de pressão

A desapropriação de terra é um tema central na jornada do MST. Ceres Hadich, da direção nacional do movimento, afirma que as atividades do Abril Vermelho são uma ferramenta de pressão e denúncia contra as violências no campo e as grandes concentrações de terra no Brasil. 

“Fazemos a jornada para que não se esqueçam do massacre de Eldorado dos Carajás e que o Brasil é o país do latifúndio, com o maior índice de concentração de terras. A reforma agrária é uma dívida histórica com os povos do campo”, explica.

Hadich conta que um dos objetivos das lutas é que o governo dê uma sinalização de que vai atender a demanda das famílias acampadas e assentadas. “Queremos que o Ministério do Desenvolvimento Agrário apresente medidas concretas e um cronograma de ações para os quatro anos.”