Neste primeiro dia do Enem 2023, os alunos e alunas fizeram as provas de Linguagens e Ciências Humanas, além da Redação, que teve como tema “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Além da redação, os candidatos e candidatas responderam a 90 questões, 45 da prova de linguagens e 45 de ciências humanas.
Entre os assuntos tratados nas questões, havia o cântico racista da torcida do Fluminense contra o Flamengo, a canção "Alegria, alegria", de Caetano Veloso, a pedagogia da autonomia de Paulo Freire, a ditadura militar no Brasil e a censura no período, entre outros temas. No entanto, um deles chamou a atenção das indígenas Txai Suruí e Alice Pataxó.
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O discurso de Txai Suruí realizado na abertura da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26) em 2021, foi tema da questão número 74 da prova, que refletia sobre a exploração da natureza pelo homem e a temática socioambiental.
"Acredito que isso significa que nossa luta está sendo ouvida de alguma forma e são preocupações que devem ser transmitidas para nossos jovens e crianças", pontua a líder indígena Txai Suruí, indígena do povo Paiter Suruí, em suas redes sociais. A fundadora do Movimento Juventude Indígena de Rondônia comemorou no X, antigo Twitter, a inclusão de sua fala na ONU no Enem.
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Em Glasgow, na Escócia, onde estava sendo realizada a conferência, ela discursou por dois minutos, em uma fala que ecoou pelo mundo e lembrou que a Terra “nos diz que não temos mais tempo”, denunciando a morte de seu amigo Ari Uru-Eu-Wau-Wau, assassinado por registrar exportações ileigais de madeira em 2020.
Aos 26 anos, Txai é conselheira na WWF Brasil e no Pacto Global da Organização das Nações Unidas. A líder indígena defende os direitos indígenas e a preservação do meio ambiente.
Para a indígena Alice Pataxó, a citação de Racionais Mc’s e Txai Suruí no exame foi assertiva. “Mas fiquei muito feliz vendo @walela15 e os @bromcoficial”, escreveu em em seu perfil.
Veja o discurso de Txai Suruí na COP26 na íntegra:
“Meu nome é Txai Suruí, eu tenho só 24, mas meu povo vive há pelo menos 6 mil anos na floresta Amazônica. Meu pai, o grande cacique Almir Suruí me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a Lua, o vento, os animais e as árvores.
Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo.
Uma companheira disse: vamos continuar pensando que com pomadas e analgésicos os golpes de hoje se resolvem, embora saibamos que amanhã a ferida será maior e mais profunda?
Precisamos tomar outro caminho com mudanças corajosas e globais.
Não é 2030 ou 2050, é agora!
Enquanto vocês estão fechando os olhos para a realidade, o guardião da floresta Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo de infância, foi assassinado por proteger a natureza.
Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui. Nós temos ideias para adiar o fim do mundo.
Vamos frear as emissões de promessas mentirosas e irresponsáveis; vamos acabar com a poluição das palavras vazias, e vamos lutar por um futuro e um presente habitáveis.
É necessário sempre acreditar que o sonho é possível.
Que a nossa utopia seja um futuro na Terra.
Obrigada!”