A historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz usou as redes sociais para postar uma análise da foto caricata e teatral tirada do casal Jair e Michelle Bolsonaro, em uma das cerimônias realizadas durante o funeral da rainha Elizabeth, em Londres, Inglaterra.
O presidente e a primeira-dama brasileiros tentaram transmitir certo tom aristocrático, que ambos estão longe de exibir, e posaram da seguinte forma: ele, como se fosse um nobre patriarca sem convencer ninguém disso, e ela, como sua esposa submissa, o que, de fato, demonstra. Lilia classificou a imagem como "triste e patético espetáculo".
Leia a íntegra da mensagem postada por Lilia Schwarcz:
“De olho na foto!!!!! No primeiro plano está o casal presidencial brasileiro. Como compete a um bom “patriarca”, ele se encontra sentado, rijo, como se fosse uma estátua do poder. Expressão séria — inflacionando o que é necessário para a ocasião, mas buscando claramente representar na situação — Bolsonaro segura a caneta ainda na mão, como se tivesse acabado de realizar o ato de assinar o documento do funeral. Destaque para a gravata meio torta que reforça as fragilidades do figurante.
A seu lado está a primeira dama. De pé — numa atitude que revela subjugação a seu marido — ela cruza os braços à frente e traz uma expressão que busca chamar pela seriedade do evento. Não contém, porém, um leve sorriso no rosto, de quem sabe que estará sendo vista por muitos e muitas conterrâneos seus.
Com seu porte de princesa ela imita — propositadamente e segundo pedido expresso — Kate Middleton, a igualmente submissa, duquesa de Cambridge e sempre esposa do Príncipe William e sem brilho próprio. Michelle quer ser e atuar como nobre. Seu vestido preto de lã (um pouco quente para a ocasião) e especialmente encomendado traz botões que homenageiam o Reino Unido e martingale em rolotê, técnica usada em coletes e roupas miliares. O traje de luto solene foi complementado por um chapéu Pillbox, que confere seriedade ao ritual da morte. O brinco de pérolas é uma preferência da casa de Windsor. Já Michelle, mal cabe na sua alegria.
Agora, olhem bem. A centralidade do casal é desmentida pela cena que aparece refletida no espelho ao fundo. Espelhos são perigosos, e esse mostra como o que acontece, para valer, é a recepção de outras autoridades, essas sim, na ala central do salão.
A fotografia nasceu para mentir, diz Susan Sontag, e assim dizer a verdade. O fotógrafo brasileiro tentou disfarçar a pouca importância do casal Bolsonaro naquele cenário. Só esqueceu de neutralizar o espelho, que deu realidade à situação. Triste e patético espetáculo”.