(IN)JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS

Polícia investiga patrão que se filmou torturando funcionários na Bahia

Vítimas trabalhavam sem carteira assinada, jornada fixa ou direito a descanso depois do almoço; Além da esfera criminal, defesa acionará Justiça do Trabalho

Funcionários são torturados por patrão de loja em Salvador.Créditos: Reprodução / Redes Sociais
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A Polícia Civil da Bahia abriu inquérito para investigar Alexandre Carvalho Santos, acusado de se filmar torturando dois funcionários da loja Atacadão das Máscaras em Salvador. O suspeito é um dos donos do estabelecimento e o vídeo da tortura aos dois jovens negros ganhou as páginas dos jornais e as redes sociais no último final de semana.

Carvalho teria divulgado os vídeos nas suas redes sociais e teria dito em depoimento que fez “justiça com as próprias mãos” por conta de um suposto roubo que os jovens teriam feito. Junto com ele estaria Diógenes Carvalho Souza, primo do suspeito e gerente do estabelecimento. A polícia não informou o nome dos advogados do empresário aos meios de comunicação.

O delegado Willian Achan, responsável pelas investigações, já ouviu o empresário, as duas vítimas e duas testemunhas. O gerente Diógenes, sobrinho do empresário, deverá se apresentar para prestar depoimento na próxima quarta-feira (31).

Uma das vítimas, William de Jesus, de 24 anos, foi filmado seminu com uma mordaça enquanto recebia ordens para mostrar o número ‘171’ – em referência ao crime de estelionato no Código Penal – escarificado nas mãos. “Bota o 171 aí, ladrão”, diz a ordem.

A vítima denunciou que vinha sofrendo violações trabalhistas e assédio moral na empresa. Ele trabalhava sem carteira assinada, sem jornada fixa e não tinha direito a descanso depois do almoço. Além disso, tinha dinheiro descontado dos rendimentos mediante qualquer suspeita de furto, mesmo que sem comprovação.

Jesus nega que tenha roubado qualquer coisa e contou que no dia da tortura, logo que chegou para trabalhar os agressores fecharam a loja, como se já o esperassem para praticar o ato. “Eles disseram que eu ia sofrer como no tempo da escravidão”, disse a vítima. William de Jesus teria sofrido as agressões no último dia 19 de agosto.

A outra vítima, Marcos Eduardo de 21 anos, sofreu semelhante violência na terça-feira da semana passada (23). Ele foi acusado de furtar R$ 30 da loja. “Ó pessoal, mais um ladrão aqui. Trabalhou pra mim, demos moral, confiança, aí meteu a mão no dinheiro. Botei uma isca pra ele e falei pro meu primo aqui que eu ia pegar ele”, disse Carvalho na gravação, antes de agredir o rapaz com um pedaço de pau.

O delegado Achan irá investigar os suspeitos por crime de tortura, que pela Lei 9.455/97 é inafiançável e prevê pena de dois a oito anos de prisão. Além da esfera criminal, a defesa das vítimas prometeu acionar a Justiça Trabalhista.

Relembre o caso

Dois funcionários de uma loja de Salvador (BA) foram brutalmente torturados pelo dono do estabelecimento a pauladas e ferro quente. O motivo seria uma suspeita do patrão de que eles tivessem furtado R$ 30.

O caso foi denunciado à Polícia Civil na última sexta-feira (26), mas a tortura teria sido praticada no dia 19 de agosto. Uma das vítimas, identificada como William de Jesus, de 21 anos, teve as mãos marcadas a ferro quente com o número 171, em referência ao crime de estelionato. A outra vítima, identificada como Marcos Eduardo, de 23 anos, foi agredido com um pedaço de madeira. O patrão, por sua vez, foi identificado como Alexandre Carvalho Santos. À polícia, ele confessou o crime e disse que fez "justiça com as próprias mãos".

"Ele disse que ficou bastante chateado pela subtração, segundo ele, de um valor de R$30. Só que a vítima alega que, enquanto estava fazendo a limpeza achou esse dinheiro, e que seria entregue a ele [Alexandre], mas ele não aceitou os argumentos dos funcionários. E então, de modo imprudente, acabou tentando fazer a lei com as próprias mãos", disse o delegado William Achan, responsável pela investigação do caso.

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra Marcos Eduardo recebendo pauladas nas mãos. "Mais um ladrão aqui, mais um ladrão pessoal. Trabalhou para mim, a gente deu moral e confiança, e ele metendo a mão no dinheiro", diz um homem, que seria outro responsável pela loja, enquanto filma o patrão torturando o jovem.

Os agora ex-funcionários passarão por exames de corpo de delito e o caso segue sob investigação na 1ª Delegacia Territorial (DT) de Salvador.

Assista a um dos vídeos que mostra a tortura [imagens fortes]


 

*Com informações do G1, Diário do Nordeste, Folha de S. Paulo e iBahia