APOLOGIA AO RACISMO E ESTUPRO

Delegado que fez ameaça velada a Lula tem demissão aprovada pelo Conselho da Polícia

Paulo Bilynskyj ainda teve sua arma e distintivo recolhidos pela corporação por fazer vídeos em que aparece atirando, atacando a esquerda e convocando para atos bolsonaristas

Paulo Bilynskyj faz vídeos com armas e posa com Eduardo Bolsonaro.Créditos: Reprodução
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O delegado bolsonarista Paulo Bilynskyj, conhecido pela morte de sua ex-namorada e por atuar como "influencer" pró-armas e contra a esquerda no Instagram, deve ser demitido da polícia. O Conselho de Polícia Civil de São Paulo aprovou na última semana a demissão do extremista por vídeos que, segundo a corporação, fazem apologia ao racismo e ao estupro

Professor de "defesa armada", Bilynskyj divulgou vídeo que mostra uma mulher branca sendo carregada por homens negros para dizer que a 'situação fica preta" para quem não se inscreve neste tipo de curso. 

Solicitada pela Corregedoria, a demissão do delegado, agora, seguirá para aprovação do governador Rodrigo Garcia (PSDB), que pode ou não chancelar a exoneração do bolsonarista. 

Arma e distintivo recolhidos 

Além do vídeo com suposta apologia ao estupro e racismo, Paulo Bilynskyj fez inúmeras postagens nos últimos dias em que aparece armado e atacando a esquerda

Nessas publicações, feitas através dos stories, Bilynskyj fala em "lutar" para que "não dê merda" nas eleições enquanto aparece abrindo fogo. Em uma das postagens, diz que vai aos atos bolsonaristas no feriado de 7 de setembro junto a um vídeo em que dispara contra um alvo. "Não podemos deixar a esquerda voltar", declara em outra postagem. 

Em maio, ele já havia ganhado holofotes ao divulgar em suas redes sociais um vídeo debochando da fala do ex-presidente Lula (PT) sobre transformar clubes de tiro em clubes de leitura. Com caixas de armas que simulam esteticamente livros, o delegado convidou o petista, de forma irônica, a conhecer seu ‘clube do livro’, em uma ameaça velada. 

Ao jornal Estadão, Osvaldo Nico Gonçalves, delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, informou que a Corregedoria da corporação vai investigar a conduta de Bilynskyj. A corporação, inclusive, recolheu arma e distintivo do policial

Nega, se coloca como vítima e quer ser deputado 

Em seu Instagram, nesta sexta-feira (29), o delegado postou vídeo em que negou qualquer incitação a violência e disse que está sendo "atacado porque usou a sua voz pra lutar pela família brasileira, e essa é a pior ameaça para a Esquerda". 

Ele ainda aproveitou o fato de que está com o nome em evidência para lançar candidatura a deputado federal. "A nossa luta está apenas começando e ela não é só por mim. Hoje, me junto ao Deputado Federal Eduardo Bolsonaro e anuncio a minha Pré-Candidatura a Deputado Federal do estado de SP pelo PL, o partido do nosso Presidente Jair Messias Bolsonaro", escreveu. 

Morte suspeita da namorada 

Paulo Bilynskj, que está sendo investigado por incitar a violência política no próximo 7 de setembro, além de ter feito ameaças veladas ao ex-presidente Lula, também foi suspeito de ter assassinado a namorada, Priscila Delgado, em 2020.

Bilynskj tinha 33 anos em 20 de maio de 2020 quando foi socorrido por vizinhos na porta do apartamento onde vivia com a namorada Priscila Delgado e levado para um hospital. Priscila, por sua vez, foi encontrada morta no banheiro do apartamento. À época, a Polícia Militar, mesmo após visitar o local, afirmou que não iria se manifestar e que informações poderiam ser procuradas na Secretaria de Segurança Pública (SSP). A SSP, por sua vez, disse que a investigação do caso ficaria a cargo da Corregedoria da Polícia Civil.

De acordo com sua versão, o delegado tomava banho quando a namorada entrou no banheiro atirando contra sua pessoa, por haver se irritado com mensagens que encontrou no celular do companheiro. Ele foi baleado no abdômem mas teria conseguido fugir para o local onde foi encontrado enquanto a namorada teria se suicidado com um tiro no peito. A tese foi acatada pela Justiça e o delegado acabou absolvido.

No entanto, a família da vítima e especialistas forenses ouvidos na época ainda colocam dúvidas sobre a decisão. O próprio exame que mostraria se o delegado disparou ou não uma arma naquele dia acabou não sendo realizado.

Para o perito forense particular Eduardo Llanos, a ausência da prova residual “chama muito a atenção”. “É feito o exame residuográfico na maioria dos casos, mesmo nas mãos de vítimas feridas ou bandidos feridos quando levados a hospital”, disse ele à Ponte. “Não há como dar 100% de crédito à história que ele está contando. Por que omitir uma prova que pode confirmar a inocência do delegado?”, questionou à época.

Já cientista forense Sérgio Hernandez, também à época, mostrou uma opinião semelhante a de Llanos e destacou que quem teria que ter feito a solicitação dessa perícia é o delegado que registrou a ocorrência. “Houve negligência, omissão. Todos os casos balísticos, onde se efetue tiros de arma de fogo, tanto a vítima, como o suspeito, o agressor, eles devem passar pela coleta de resíduos, obrigatoriamente, para verificar se essas pessoas efetuaram ou não os tiros”, afirmou.

Os peritos ainda comentaram sobre possíveis roupas que Bilynskj  estaria usando quando foi encontrado, uma vez que segundo sua versão ele teria corrido do chuveiro para fora do apartamento, e se estivesse vestido seria difícil confiar em sua história. Além disso, chamaram a atenção para a não realização de perícia do celular do então suspeito, para apurar se havia alguma troca de mensagens que pudesse despertar o ciúme da namorada, a fim de verificar sua versão dos fatos.

As indagações dos especialistas à época deixaram dúvidas quanto à história, e a família da vítima ainda nega a versão de suicídio. No entanto o processo foi arquivado.