O ex-deputado estadual Arthur do Val, seu ex-assessor Guto Zacarias e o coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL), Renan Santos, estão sendo acusados de terem forjado, de forma criminosa, uma denúncia de pedofilia contra o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, em 2020. O objetivo seria turbinar a campanha de Arthur do Val, conhecido como "Mamãe Falei", à prefeitura de São Paulo.
A acusação foi feita por dois ex-membros do MBL em entrevista à revista Piauí, divulgada nesta sexta-feira (15). Segundo Fernando Dainese e Lucas Studart, que deixaram o grupo em dezembro de 2020 por, segundo eles, discordarem das "táticas" de seus membros, o ex-assessor de Arthur do Val na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Guto Zacarias, teria criado uma conta no Facebook, em setembro daquele ano, com o nome "Matheus Rocha Nunes", um perfil fake de um jovem com 16 anos.
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Esse perfil foi utilizado para trocar conversas de cunho sexual com um suposto perfil do padre Júlio. Depois, o suposto diálogo foi gravado em vídeo e enviado à polícia de São Paulo em forma de denúncia anônima para acusar o religioso de pedofilia.
“O vídeo do padre foi produzido pelo MBL na época da campanha do Arthur. O Guto se passou por um menor de idade. Eu não estava à frente dessa situação. Mas eu vi ele fazer essa operação contra o padre", disse Fernando Dainese à Piauí.
A reportagem revela que, enquanto Guto mantinha conversas com o suposto perfil de Lancellotti para produzir falsas provas contra o padre, Arthur do Val dava entrevistas dizendo que iria "desmascarar" o sacerdote.
Pouco tempo depois, em outubro, Arthur do Val, então, anunciou em uma entrevista que recebeu "em primeira mão" uma denúncia de pedofilia contra o padre. "Eu recebi, e confesso que fiquei atônito, uma denúncia muito grave sobre o Julio Lancellotti, uma denúncia de pedofilia. E é uma denúncia que consta inclusive com vídeos, não estou falando algo da boca para fora", disse na ocasião.
Os ex-membros do MBL ainda envolveram Renan Santos, que esteve com Arthur do Val na Ucrânia quando o ex-deputado sugeriu turismo sexual e se referiu a ucranianas de forma sexista, no esquema contra Júlio Lancellotti. "Era uma estratégia eleitoral do Renan", revelou Dainese.
A denúncia forjada contra o padre foi arquivada pelo Ministério Público em agosto de 2021 por falta de materialidade. A defesa de Júlio Lancellotti afirma que o suposto diálogo com menor de idade usado na acusação foi manipulado.
Já o MBL, através de seu chefe de comunicação, Israel Russo, negou a acusação feita pelos ex-membros do grupo. “São acusações falsas de desafetos bolsonaristas”, disse.