Um caso trágico e ainda sem resposta definitiva intriga as autoridades mineiras. Maria Fernanda Camargo, de apenas 5 anos, deu entrada num hospital de Frutal (MG) no dia 24 de março, já quase sem vida, com 100% do corpo queimado. A menina chegou a ser transferida para uma unidade maior em São José do Rio Preto (SP), mas não resistiu. Os integrantes de sua família, composta pela mãe, tia e avós maternos, disseram que a criança tinha sofrido um acidente numa churrasqueira.
A Polícia Civil desconfiou da história contada pelos adultos, que tinha poucos traços verossímeis, e começou a interrogá-los, dias depois do fato. Surge então a informação de que Maria Fernanda teria morrido num ritual macabro de invocação de espíritos malignos realizado por um líder espiritual que vive na região. Não demorou para que versão se espalhasse e provocasse uma reviravolta no inquérito policial presidido pelo delegado Murilo Antonini.
Diante dos supostos novos fatos, a Justiça decretou a prisão de todos os membros da família e também do homem responsável pelo ritual espiritual. A mãe, a tia e a avó da vítima foram removidas para uma cadeia pública de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, enquanto o avô e o autor da sessão religiosa seguiram para uma penitenciária na própria região de Frutal. Com 71 anos e sofrendo de hipertensão grave, o avô da criança tem um pedido de prisão domiciliar sendo analisado pelo magistrado do caso.
Passado um mês do trágico fato, as autoridades policiais e judiciárias têm agora que lidar com uma versão que pode, pelo menos em parte, provocar uma nova reviravolta nas investigações. Os novos depoimentos mostraram que o episódio que resultou nas queimaduras em toda a extensão corporal da pequena Maria Fernanda não teria sido provocado pela churrasqueira, tampouco por um ritual de sacrifício bárbaro e monstruoso.
Os responsáveis pela menina, assim como o acusado de ter ateado fogo na criança, em oitivas separadas, deixaram claro que tudo teria sido um terrível acidente, notadamente provocado por imprudência. A mãe e a avô da vítima disseram que a menina apresentava uma forte e prolongada tosse havia semanas. Como dois parentes tinham desenvolvido Covid-19 de forma agressiva e grave no auge da pandemia, preocupados com uma possível infecção de Maria Fernanda, elas resolveram levá-la a um curandeiro que realizava tratamentos espirituais e a quem a família já tinha recorrido anteriormente.
No local do ritual, o tal líder espiritual passou um álcool com extrato de ervas em todo o corpo da criança. A avó teria dito, inclusive, para que o homem não utilizasse a substância. Momentos depois, com uma vela acesa, o curandeiro começou a passá-la muito perto da pele de Maria Fernanda. Foi questão de segundos para que ocorresse uma ignição e a menina ficasse completamente em chamas. Seus parentes, apavorados, até tentaram apagar o fogo, que teria durado pouco menos de três minutos. Eles também acabaram queimados.
Diante dos novos fatos, que batem entre as versões apresentadas, a Polícia Civil acredita que tudo pode ter sido fruto de um acidente provocado por imprudência total do curandeiro. O delegado responsável pelo inquérito afirmou, inclusive, que o homem deve ser indiciado por homicídio doloso, uma vez que seria inconcebível que um adulto maduro, em pleno gozo das faculdades mentais, não supusesse que o encontro do líquido inflamável com uma chama resultaria num incêndio.
Quanto aos parentes, as autoridades insistem que eles devem responder por homicídio com dolo eventual, já que ficaram assistindo ao obviamente perigoso ritual sem interrompê-lo ou proteger a menor. No entanto, os indiciamentos ainda não estão definidos e os próximos passos da investigação policial devem definir oficialmente o que ocorreu no horrendo episódio e qual será a responsabilização de cada indivíduo presente no lugar.