Na mesma semana em que o assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes completou quatro anos, a Polícia Federal deflagrou uma operação contra o tráfico internacional de armas.
Um dos envolvidos no esquema é Ronnie Lessa, vizinho do presidente Jair Bolsonaro (PL) no condomínio Vivendas da Barra e acusado de matar a vereadora. Áudios, imagens e informações exclusivas da PF foram obtidas pelo Fantástico, da Rede Globo.
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Uma senhora de 88 anos reconhece o homem, em mensagem de áudio para o filho, João Marcelo de Lima Lopes, conhecido como Careca, dois dias após ele ter sido preso, em 2019. Ele e a mãe são acusados de integrar a quadrilha que fornecia equipamentos não só para Lessa, mas também para outros criminosos.
Dois anos de monitoramento
Careca foi monitorado pela PF e pelo Ministério Público por mais de dois anos, em parceria com um departamento da polícia americana que apura crimes transnacionais.
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Parte do esquema de tráfico com armas, peças e munições passava pelo bairro de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio de Janeiro: a casa da mãe de Careca, Ilma. Numa mensagem de 2019, ela avisa ao filho a chegada de equipamentos:
Careca: "Mãe, é pequeno ou grande? Tá pra chegar dois, acho que um pequeno e um grande."
Ilma: "Esse é pequeno, é pequeno."
Ilma guardava os pacotes e os repassava a comparsas e clientes da quadrilha sob a orientação do filho, de acordo com a PF. Imagens de câmeras de segurança de novembro de 2020, mostram Ilma e um homem conversando do lado de fora do prédio. Uma hora e dez minutos depois, o homem deixa o local com quatro malas e uma pasta.
Lessa passou pela casa
A própria Ilma contou em outra mensagem de áudio que Ronnie Lessa também passou pela casa:
“Marcelo, esse Ronnie Lessa foi o que esteve aqui em casa, que me pegou pelo pescoço e me botou na frente dele pra sair aqui de casa, não foi? Agora que eu tô conhecendo ele”, disse Ilma.
Careca confirmou a identidade do homem e pediu para a mãe apagar a mensagem. Ela respondeu com outra gravação e eles seguiram a conversa:
Ilma: "Ah, meu filho, quando é que você vem aqui? Dá um jeito de vir...
Careca: "Não, agora quem não quer ir aí sou eu, mãe. Depois dessa bomba aí… Não vou agora, não. (...) O lugar que eu menos quero ir agora é aí."
Careca mostrou, em outras gravações, ter uma relação próxima com Ronnie Lessa, para além dos negócios, pelos quais o assassino de Marielle Franco pagou ao menos R$ 200 mil.
O esquema de tráfico internacional de armas, de acordo com a PF, abasteceu traficantes, milicianos e matadores de aluguel no país, principalmente no Rio, por pelo menos 6 anos.
O advogado de Ronnie Lessa disse que não tem como se manifestar, porque não teve "contato com qualquer elemento da investigação".
O advogado de Ilma Lustoza negou qualquer envolvimento dela com o esquema de tráfico de armas.