O Globo, que ajudou a eleger Jair Bolsonaro (PL), decidiu agora defender os humoristas Danilo Gentili e Fabio Porchat, acusados de fazer apologia à pedofilia no filme “Como se tornar o pior aluno da escola”. A produção foi roteirizada por Gentili, com atuação de Porchat, e entrou na mira de bolsonaristas cinco anos após o seu lançamento.
O longa, disponível na Netflix, tem sido acusado de promover a pedofilia devido a uma cena em que o personagem de Porchat tenta abusar dos protagonistas, dois adolescentes.
Em seu blog “Opinião”, o Globo criticou os ataques em um editorial cujo título é “Censura a filme expõe uso do Estado pelo bolsonarismo”.
O texto inicia dizendo que “foi totalmente descabida, absurda e inaceitável, além de flagrantemente inconstitucional, a decisão do Ministério da Justiça de censurar o filme ‘Como se tornar o pior aluno da escola’, baseado em livro homônimo do comediante Danilo Gentili, que atua e assina também o roteiro da obra. Na terça-feira, o governo determinou que as plataformas de streaming suspendessem a exibição da comédia de 2017, na época liberada pelo ministério para maiores de 14 anos. A alegação para o arbítrio é uma cena em que dois meninos são assediados por um adulto, vista por bolsonaristas como apologia da pedofilia. Na quarta-feira, o ministério alterou a classificação para 18 anos”.
O Globo diz, ainda, que “tão grave quanto a censura, inaceitável num Estado democrático em que ela é vedada pela Constituição, é usar a estrutura estatal para impor a ideologia bolsonarista com objetivos político-eleitorais. Bastou o esperneio conservador nas redes sociais para que, num arroubo autoritário, o Ministério da Justiça mobilizasse o aparelho do Estado para alimentar a guerra cultural do bolsonarismo”.
“Sob o comando de Mario Frias, a Secretaria Especial da Cultura tem se revelado um dos principais bunkers da guerra cultural do bolsonarismo”
O editorial acrescenta que “o presidente Jair Bolsonaro já mandou vetar filmes com temática LGBT. Sob o comando de Mario Frias, a Secretaria Especial da Cultura tem se revelado um dos principais bunkers da guerra cultural do bolsonarismo. É evidente o filtro ideológico aplicado nos projetos candidatos à Lei Rouanet. Um dos casos de repercussão foi o veto, por duas vezes, ao Festival de Jazz do Capão (BA). A recusa foi motivada por um anúncio do evento em que era descrito como ‘festival antifascista e pela democracia’. Foi o suficiente para a censura. Para se alinhar às normas do Planalto, Frias proibiu que produções financiadas pela Lei Rouanet exigissem do público o passaporte sanitário, decisão que acabou derrubada na Justiça”.
Em outro trecho, o Globo relata que "a própria Damares chegou ao cúmulo de oferecer um canal do ministério para receber denúncias de pais insatisfeitos com a obrigatoriedade de vacinar os filhos. Seguiu o roteiro proposto pelo presidente Jair Bolsonaro, crítico da vacinação infantil, embora a exigência esteja prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Damares alegou defender os direitos humanos de quem era contra a vacina. Só não foi adiante porque o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), proibiu essa insensatez".