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Coordenador da Funai é preso em operação contra arrendamento de áreas indígenas para fazendeiros

Segundo a PF, dano ambiental na TI Xavante Marãiwatsédé pode ser estimado em mais de R$ 58 milhões.

Criação de gado na TI Xavante Marãiwatsédé.Créditos: Divulgação/Polícia Federal
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O coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Ribeirão Cascalheira (MT), Jussielson Gonçalves Silva, foi preso preventivamente em operação de Polícia Federal desencadeada nesta quinta-feira contra o arrendamento de terras para criação de gado na Terra Indígena Xavante Marãiwatsédé.

Além de Jussielson, que é militar inativo, dois policiais militares foram presos na  Operação Res Capta, deflagrada pela PF nesta quinta. São eles:  o sargento da PM Gerrard Maxmiliano Rodrigues de Souza e o ex-PM do Amazonas, Enoque Bento de Souza. 

Mais de 50 policiais federais participaram da ação que ainda determinou 7 mandados de busca e apreensão e sequestro de bens, 2 ordens judiciais de afastamento de cargo público, 2 ordens judiciais de restrição ao porte de arma de fogo e outras 15 medidas cautelares diversas da prisão.

Segundo a PF, foi constatado que servidores da Funai de Ribeirão Cascalheira estariam cobrando valores de grandes fazendeiros da região para direcionar e intermediar arrendamentos no interior da Terra Indígena Xavante Marãiwatsédé. 

Perícia realizada no local aponta extenso dano ambiental provocado por queimadas para formação de pastagem, desmatamento e implantação de estruturas voltadas à atividade agropecuária. O dano ambiental foi mensurado em mais de R$ 58 milhões.

A PF determinou que os fazendeiros que ocupam o local desocupem a área - que teria mais de 70 mil cabeças de gado - em até 45 dias. Caso contrário, novos mandados de prisão podem ser emitidos.

Os arrendamentos estariam gerando repasses de aproximadamente R$ 900 mil por mês à liderança indígena Xavante.

Bolsonaro e Lira querem mineração em terras indígenas

A operação acontece uma semana depois de a Câmara dos Deputados aprovar a tramitação em regime de urgência do PL 192/20, que pretende autorizar atividades de mineração em terras indígenas. A ação da PF mostra como operam os fazendeiros que pretendem explorar as terras que são restritas aos indígenas e indica como poderia funcionar no caso da mineração. 

Para a deputada Joenia Wapichana (Rede-RR), a proposta viola direitos das populações indígenas. “Vai levar à morte, à devastação das vidas e das terras indígenas. Não se pode colocar uma ameaça de falta de fertilizantes para autorizar a mineração em terras indígenas, mas essas minas [de materiais utilizados na fabricação de fertilizantes] não estão na Amazônia, estão em São Paulo e em Minas Gerais”, declarou.