Historiador denuncia racismo em loja do aeroporto de Salvador, que vende cerâmicas de escravos acorrentados

Após acusações de racismo, loja Hangar das Artes divulgou nota de retratação e admitiu que errou, informando que pretendia representar Pretos-Velhos, entidade da umbanda

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Uma loja de objetos de decoração aeroporto de Salvador (BA) está sendo acusada por usuários das redes sociais de racismo. Isso porque estão à venda no local cerâmicas que, segundo a própria etiqueta, representam "escravos", cuja unidade vale R$ 99,0.

A denúncia foi feita pelo historiador Paulo Cruz, que se deparou com as peças na loja Hangar das Artes, no aeroporto da capital baiana.

"Último dia de viagem. Cidade mais preta das Américas. No aeroporto internacional de Salvador a loja @hangardasartes exibe em sua prateleira figuras de escravos à venda. ACORRENTADOS. No porto de entrada e saída da cidade, repito, mais preta da América. O preço da nossa história, genocídio e dor? R$99,90. Vamos lá perguntar se eles são racistas? COMPARTILHEM ESTE POST. E, por favor, encham o saco da loja até que eles peçam desculpas por esse CRIME", escreveu o internauta ao compartilhar uma foto das cerâmicas.

Alguns internautas ponderaram que a loja poderia querer representar, nas peças, os Pretos-Velhos, entidades da umbanda. Foi essa, inclusive, a justificativa do estabelecimento, que divulgou uma nota de retratação nesta segunda-feira (7) após as críticas, admitindo que errou.

"As imagens que estão circulando, de algumas de nossas esculturas, tratam-se da imagem do Preto(a) Velho(a) - espíritos que se apresentam sob o arquétipo de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravizadas, entidades essas que trabalham com a caridade e cuidam de todas as pessoas que os procuram para melhorar a saúde, abrir caminhos e ter proteção no dia a dia. Por isso, algumas das peças possuem correntes, na tentativa (ERRÔNEA) de retratar a história dessa entidade de maneira literal. Erramos na forma em que as peças foram expostas e em descrevê-los apenas como escravos, apagando, de certa forma, a história que carrega.
Pedimos nossas mais sinceras desculpas a todos que se sentiram feridos e menosprezados pela maneira como conduzimos às coisas. Nossa intenção JAMAIS foi menosprezar, ferir ou destituir da imagem de uma entidade tão importante e a potência de sua história", diz um trecho da nota.

A deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) comentou o fato através das redes sociais. "Nada justifica souvenir fazendo alusão à escravidão e cativeiro do povo preto! Não é decoração, não é ideia de presente!", escreveu a parlamentar, com a hashtag #racismoestrutural.

O ativista do movimento negro Antonio Isupério também apontou racismo na venda das cerâmicas. "Vc imagina que poderia ter um boneco de crianças judias em 1forninhos” para serem vendidas como adereços? Então, isso não acontece porque o repúdio a violência do Nazismo já esta em domínio público enquanto nós negros ainda estamos em processo de conquista a nossa humanidade. Quem será que compra um boneco de pessoas escravizadas? A quem isso serve?", escreveu Isuperio.

"Encenação gratuita é a objetificação de uma história, é a transformação dela em produto. Qual e a cara dos donos desta loja? Brasil, 2022", prosseguiu.

Confira a íntegra da nota de retratação da loja Hangar das Artes