Em audiência na Comissão de Direitos Humanos do Senado, nesta quarta-feira (16), o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, apresentou aos senadores um dossiê com 458 ameaças de mortes e intimidações feitas contra servidores do órgão por conta da aprovação da vacina infantil contra a Covid-19.
Essas ameaças partiram, principalmente, de bolsonaristas que, incentivados pelo discurso do presidente Jair Bolsonaro (PL), se colocam contra a vacinação de crianças - que é segura e eficaz para o combate à pandemia.
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A aprovação da dose infantil contra a Covid, por parte da Anvisa, se deu 16 de janeiro. "Nas primeiras 48 horas após a aprovação das vacinas, o número de ameaças por e-mail — e-mails intimidadores, termos agressivos —, ultrapassou 124, para ser preciso. Ou seja, saltamos de 3 antes da reunião para 124", relatou Barra Torres, reforçando que, atualmente, os servidores do órgão "não têm segurança para trabalhar".
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Essas ameaças, que continuam chegando, têm sido encaminhadas, segundo Barra Torres, à Polícia Federal, ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, à Procuradoria-Geral da República e ao Ministério da Justiça.
Ao longo da audiência, Barra Torres disse, ainda, que as fake news sobre as vacinas difundidas a partir da narrativa de Bolsonaro prejudicaram a imunização e resultaram em mais mortes. Ele reforçou que medicamentos como cloroquina, propagandeados pelo presidente, não têm efetividade alguma contra a Covid, refutando a nota técnica do ministério da Saúde que colocou esses remédios como mais efetivos que os imunizantes.
"A autoridade máxima de classe dos imunologistas [Sociedade Brasileira e Imunologia] transmitiu parecer contrário [à nota técnica do Ministério da Saúde]. Conass e Conasems também se manifestaram publicamente em discordância ao teor da nota. Me parece que perdemos um tempo precioso, que poderia estar voltado para enfrentar a pandemia, que ainda não acabou, e infelizmente damos ouvidos a essas complicações", atestou.
À Fórum, o senador Humberto Costa (PT-PE), que conduziu a audiência, afirmou que a sessão foi "muito proveitosa" e que ficou claro que "a grande produção de notícias falsas, feitas por Bolsonaro e seus apoiadores, têm o objetivo de impedir a continuidade do enfrentamento à pandemia".
Pandemia não acabou
O diretor-presidente da Anvisa fez questão, durante a audiência no Senado, de reforçar que a pandemia do coronavírus ainda não acabou.
Ele fez uma analogia com acidentes de avião para elucidar o quanto os números da Covid ainda devem preocupar. Segundo Barra Torres, nos últimos 15 dias a Covid matou o equivalente à 63 quedas de aviões - mais de 12 mil mortes.
"Até hoje nós falamos do voo da Air France. Isso é marcante e a Covid-19 não é. O que a gente não se dá conta é de que todos os dias há aviões que estão caindo em território nacional. É razoável dizer que a pandemia está acabando?”, questionou.