Edson Kolosque da Conceição, de 52 anos, o Papai Noel que diverte as crianças no Garten Shopping, em Joinville, Santa Catarina, tem uma companhia fiel, além dos pequenos: a apenas 4 metros de distância, um segurança observa o movimento de todos que se aproximam do personagem.
O agente foi contratado pela direção do shopping depois que o Papai Noel passou a ser atacado e chamado de “comunista” nas redes sociais do estabelecimento, que fica em um dos estados mais bolsonaristas do Brasil.
À primeira vista, os ataques poderiam ser motivados pela roupa vermelha do personagem, dentro da ótica obtusa dos bolsonaristas. Porém, a razão é ideológica: além de ser filiado ao PT, Kolosque escreveu um livro para relatar a história do partido em Santa Catarina.
“A Fundação do Partido dos Trabalhadores em Santa Catarina e as Eleições de 1982”, lançado em 2020, foi escrito originalmente como um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), quando ele ainda estudava História na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Kolosque começou sua militância na União Joinvillense de Estudantes Secundaristas (UJES)) e na União Catarinense de Estudantes Secundaristas (UCES). Depois, foi diretor de cultura e de educação na administração de Sabino Bussanello (PT) na prefeitura de Itapema, litoral de Santa Catarina.
Os ataques começaram este ano. “É em instantes! Pontualmente às 17hrs o Papai Noel chega no Garten Shopping. Esperamos por você!”, destacava uma postagem do Garten Shopping, no dia 26 de novembro.
Uma mulher escreveu: “Papai Noel comunista NÃO!! Fora!!”. O comentário teve 33 respostas, inclusive da própria autora da mensagem. “Procura a biografia dele, procura as redes sociais, pesquisa no Google Fotos dele com o Lula entre outras vias”, insistiu.
Três dias após a primeira publicação, o shopping fez outra postagem com um vídeo da chegada de Kolosque como Papai Noel. “Levei as minhas filhas no outro shopping VALEU MUITO A PENA! Garten não, Papai Noel COMUNISTA!!”, respondeu a mulher, seguida de 48 comentários.
"Jamais meus filhos vão chegar perto", postou um homem. "Esse cidadão apoia o Lula. Como brasileiro estou fora!", publicou outro.
Tristeza, preocupação e crises de ansiedade
Kolosque revelou que se sentiu extremamente triste com a reação nas redes: "Joinville é uma cidade que tem muitas pessoas bolsonaristas, muita gente na frente do quartel. Eu fiquei chateado porque faço meu trabalho com carinho, eu gosto de fazer", declarou, em entrevista a Hygino Vasconcellos, no UOL.
Ele é pai de dois filhos e duas filhas e ficou preocupado com a segurança da família. "Eu sempre tive meu lado político e trabalho há 11 anos [como Papai Noel] e isso nunca incomodou ninguém. Fiquei chateado porque meus filhos poderiam sofrer bullying na escola", disse, revelando que, após os ataques, passou a sofrer crises de ansiedade.