Embora com contrato a ser assinado somente no próximo ano, avançou nesta quinta-feira (22) o processo de privatização do metrô da região metropolitana de Belo Horizonte (MG). Com lance mínimo previsto de R$ 19,3 milhões, o leilão ocorrido no início da tarde aconteceu pela Bolsa de Valores de São Paulo (B3) e foi arrematado pelo Grupo Comporte Participações S/A pelo valor de R$ 25.755.111,00. A empresa ficará responsável por operar o serviço público de transporte na região pelos próximos 30 anos.
Mesmo estendida por anos de discussão, não há consenso sobre os termos do edital que prevê a revitalização da linha 1, entre Novo Eldorado e Vilarinho, e a criação da linha 2 que deverá ligar Nova Suíça à região do Barreiro. O modelo adotado tem sido duramente criticado por metroviários e especialistas. De acordo com o professor e urbanista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Roberto Andréas, o modelo que está sendo adotado para a gestão do transporte em Belo Horizonte é “uma forma de usurpação do recurso público para fins privados, sem garantia de qualidade do serviço, sem controle de qualidade”, o que segundo ele “torna a população refém”.
Em manifestação convocada hoje pelo sindicato dos metroviários em frente à praça da Estação, no centro de Belo Horizonte, o atual diretor do SindiMetro, Pedro Vieira, declarou haver uma série de irregularidades e erros no atual projeto. “A pesquisa de origem e destino não foi feita. A gente não sabe se essa é a melhor forma de atender a população”. Para ele, os valores estipulados pelo edital também encontram problemas. “A CBTU tem um patrimônio estimado pelo BNDES de R$ 750 milhões. O leilão vai ser feito e a empresa vai ser vendida por R$ 19 milhões”. Ainda de acordo com Vieira, “os R$ 3,2 bilhões de recurso público que vão ser dados a quem fizer a compra da empresa seriam suficientes para modernizar a linha 1, construir a linha 2 e haver ainda uma sobra de caixa”.
Na última terça-feira (20), o tema foi o caso de imbróglio entre a equipe de transição do futuro governo Lula e o atual governo de Minas. O vice-presidente Geraldo Alckmin, que inicialmente havia encaminhado ao ministro da Economia, Paulo Guedes, um ofício solicitando o adiamento do leilão alegando a insegurança jurídica do edital, entrou em acordo com o governador de Minas, Romeu Zema, optando dar curso ao cronograma já previsto. Após o leilão desta quinta-feira, a empresa Comporte, da família Constantino Oliveira, passa a operar a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU-BH), órgão ligado ao governo federal.