CONGRESSO NACIONAL

PEC da Transição avança e R$ 105 bi liberados do teto são alvo de debate

A Proposta deve ser protocolada nesta quarta (23). Destino do valor liberado no Orçamento será definido pelo Congresso. Período em que Bolsa Família fica fora do teto também está em debate.

Presidente do Congresso.O senador Rodrigo Pacheco concedeu entrevista coletiva nesta terça (22) sobre a PEC da Transição.Créditos: Jefferson Rudy/Agência Senado
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Com alguns temas ainda em disputa, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Transição deve ser protocolada nesta quarta (23) no Senado Federal. A negociação do destino do valor a ser liberado do teto de gastos foi decisiva para o avanço do debate.

Em vigor desde 2017, o teto de gastos foi estabelecido pela Emenda Constitucional nº 95 para limitar as despesas da União à inflação do ano anterior. Crítico ao instrumento, aliados do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, negociam com o Congresso há semanas a garantia de que os recursos destinados ao Bolsa Família não estejam submetidos ao mecanismo. A proposta libera R$ 105 bilhões do Orçamento de 2023, que estavam previstos para o chamado Auxílio-Brasil. Para garantir os valores defendidos pelo novo governo, de R$ 600 por família e um adicional de R$ 150 por criança de até seis anos, além do valor liberado do Orçamento, serão necessários mais R$ 70 bilhões. A equipe de transição também reivindica o investimento em outras ações que não entrariam no teto, de forma que o valor extra pode chegar a R$ 200 bilhões.

Negociação

A versão inicial da PEC destinava o valor liberado para contemplar as propostas da equipe de transição. A aceitação da equipe econômica do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de que a destinação de parte dos R$ 105 bilhões será acordada com parlamentares foi fator-chave na discussão. Além disso, Lula concordou em retirar o Bolsa Família do teto por quatro anos – a proposta inicial é que o programa fosse estivesse permanentemente livre da limitação. Neste caso, ainda há pressão de líderes para reduzir este período para apenas dois anos.

"O único [consenso] que há é a necessidade de o Congresso Nacional dar solução ao espaço fiscal para implementar o Bolsa Família a partir de janeiro. Há pontos controvertidos, que serão ponto de debate em relação ao tamanho, ao tempo e à questão da melhor âncora fiscal para o Brasil. Certamente será algo muito bem oferecido e, no final, daremos solução ao problema", disse o presidente do Congresso Nacional, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em entrevista coletiva concedida nesta terça (22).

Âncora fiscal

Outra pressão que o novo governo enfrenta é a definição de uma nova “âncora fiscal” que possa substituir a atual regra do teto de gastos, já que Lula prometeu revogar a medida durante a campanha eleitoral. Os senadores cobram do presidente eleito uma proposta de mecanismo que possa substituir o teto fiscal, para que haja algum instrumento de controle sobre os gastos públicos.

Embora esteja em vigor desde 2017, o teto de gastos foi estourado em R$ 795 bilhões durante os quatro anos de governo Bolsonaro.

O líder do PT na Comissão Mista de Orçamento (CMO), Enio Verri (PR), mostra-se confiante com as negociações. “A PEC vai passar, estou convencido disso. A essência do problema e do debate será o destino dos R$ 105 bilhões”, disse o deputado. “Os parlamentares vão apresentar emendas querendo pegar esse espaço e colocar na lei orçamentária”, afirmou a reportagem do Estadão.