Fundado a partir da política da Ditadura Militar de expansão agrícola sobre a Floresta Amazônica nos anos 1970, o município de Sorriso, no norte de Mato Grosso, ostenta atualmente dois títulos: de maior produtor de soja do país e da cidade com maior número de golpistas com contas bloqueadas pelo ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
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Da petição do ministro, divulgada nesta quinta-feira (17) - veja a lista -, 24 das 43 pessoas físicas e jurídicas têm endereço na cidade norte-matogrossense, que faz fronteira com Sinop, outro município fruto da colonização promovida pela Ditadura que teve como mote o slogan “Plante que o João Garante”, em relação ao nome do último ditador, o general João Batista Figueiredo.
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A região de Sorriso foi ocupada no final dos anos 1970 em grande parte por migrantes do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, expandindo o projeto ofertado pelos militares à Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná, cuja sigla deu nome à cidade de Sinop, onde começou a colonização da região.
Fundada em 1958 pelos empresários Ênio Pipino e João Pedro Moreira de Carvalho, a Sinop Terras Ltda, com sede em Maringá, no Paraná, cresceu com a Ditadura e se beneficiou da política de militares de vender a preços irrisórios glebas de terras devolutas do Estado.
Assumindo uma papel de neo-bandeirantes, os colonizadores atacaram e entraram em conflito com indígenas da região. Com o apoio da Ditadura, os "colonos" expulsaram e dizimaram muitas tribos da região para promover o plantio extensivo de soja, que hoje, em grande parte, é vendido a transnacionais da indústria alimentícia como a Bungee.
Adoração pela Ditadura
Nas duas principais cidades da região, onde Bolsonaro obteve mais de 70% dos votos no segundo turno - 74,34% em Sorriso e 76,95% em Sinop -, a Ditadura sempre foi louvada e a retomada do processo democrático, nos anos 80, visto com desprezo e desconfiança.
Com pouco mais de 92 mil habitantes, Sorriso é a 4ª economia de Mato Grosso e credita boa parte do sucesso financeiro da cidade - concentrada na pequena elite ainda ligada aos colonizadores originais - ao regime autocrático do país.
Um dos pioneiros de Sorriso é o gaúcho Argino Bedin, apelidado de “pai da soja” de Sorriso, que não esconde ser um entusiasta da Ditadura que, segundo ele, “trazia uma boa segurança para toda a população” e que “só não era bom para quem não queria trabalhar”.
A adoração pela Ditadura foi transferida para o culto ao "mito" Jair Bolsonaro (PL). "Até debaixo d’água eu defendo o governo Bolsonaro”, disse em 2020 o ruralista em entrevista ao site O Joio e o Trigo.
A derrota nas urnas, no entanto, provocou um desalento entre os ruralistas da região, que resolveram, diante do resultado da votação, financiar atos golpistas e colocar caminhões e tratores de suas propriedades em bloqueios de estradas e na frente dos quartéis.
A decisão de Moraes atingiu o coração do último bastião do movimento golpista, que de forma desesperada buscam apoio de Bolsonaro para manter o discurso de "intervenção federal".